Opinião

A medida do progresso

26 ago 2022 21:45

Penso nisto quando vejo os filhos da terra a quem entretanto dizemos au revoir, auf wiedersehen, goodbye…

Este mês os emigrantes voltaram em força para matar saudades da família, dos amigos, da terra.

Foram em busca de uma vida melhor e por lá ficaram. Sintomático.

O dinamismo e vitalidade que trouxeram às cidades, vilas e aldeias, faz-me sentir que cá estariam bem, que estaríamos muito melhor com eles, que é bom ver tanta vida a acontecer em zonas onde hoje está muito ao abandono, pequeno e triste.

Mas, quando comparamos o cheque ao final do mês, suspiramos para arranjar argumentos que os façam ficar.

Isto só seria mesmo bom se vivessem cá pagos pela medida de lá (como os tais “californianos” que nos apresentam na capa de uma revista recente).

E o “lá” é muito país por esta Europa fora onde o mérito é bem pago em função das qualificações e necessidades.

Em Portugal 86% dos jovens não ganha mais de 1150 euros. Mas pior, mais de 2,3 milhões de portugueses não ganha além dos 1000 euros.

Há quase 1 milhão de pessoas a viver do salário mínimo (pese embora os seus aumentos, aproximando-o do salário médio), e mais de 1,6 milhões vivem abaixo do limiar da pobreza.

Diria Beaumarchais, que um indivíduo é pelo destino de nascimento rei enquanto outro é pastor, o acaso fez a distância, só o espírito pode mudar tudo.

O mérito como critério de distinção social, foi trazido às sociedades modernas para dar melhoria de destino a indivíduos deixados à sorte das origens.

O mérito intimamente ligado à justiça, e não um abstrato conceito de igualdade.

Estamos a viver pior em Portugal? Se não fossem os apoios do estado social sim. Nos mínimos.

A expectativa de rendimentos é muito baixa e temos financiado pobreza atrás de pobreza para que ela não se torne pior…mas tem acontecido exatamente o contrário.

Na ilusão de haver igualdade, concentramos os esforços em premissas erradas, e isso veio provocar o contrário do que se pretende: ineficiência económica e desigualdade social.

A ideia do Estado cobrar demais para depois fazer alguma reposição através de subsidiação, a mim não me agrada nada. Como se fosse bom sermos guiados por um poder benevolente (mas discricionário), prevenindo-nos contra qualquer forma de perigo.

Porque não cobrar antes menos impostos?

Se falarmos dos impostos que pagamos e aquilo que temos de retorno de serviço público, ficamos perturbados.

Pior ainda por saber que não se consegue outro modelo de recrutamento ou remunerações nos serviços públicos.

Se padronizarmos a sociedade, não há necessidade de diferenciação: cada indivíduo, cada serviço, cada empresa comporta-se de forma amorfa, de acordo com um plano definido e uma cartilha de impostos, cujas retribuições tornam os talentos incapazes de sobressair, onde não há qualquer autonomia de existência que não seja ter a mão do Estado.

Nesse dia, resta-nos resignar ou emigrar.

Uma das medidas do progresso é os filhos viverem melhor que os pais.

Que por sua vez devem também viver melhor que quem os antecedeu.

Penso nisto quando vejo os filhos da terra a quem entretanto dizemos au revoir, auf wiedersehen, goodbye…