Opinião

A economia do eucalipto e os incêndios

25 jul 2022 09:00

Na região de Leiria, o eucalipto representa 39,2% da floresta e no período 2005-2015 o seu crescimento foi 14,4%

O eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.), originário da Austrália, entrou em Portugal em meados do século XIX para fins ornamentais e, posteriormente, foi cultivado pelo Estado para a produção de madeira usada como batentes na construção dos caminhos de ferro.

Em 1925, o eucalipto foi utilizado pela primeira vez em Portugal para a produção da pasta de papel pela empresa Celulose do Caima.

Actualmente, em Portugal continental, 36,2% do solo é ocupado por floresta e 26,2% dessa mancha florestal é composta por eucaliptos.

De acordo com dados do ICNF, no período 2005-2015, o eucalipto foi a espécie que mais cresceu no País (59,1%) em detrimento de uma drástica diminuição da área de pinheiro-bravo que teve uma redução de 84,8%.

O acentuado processo de eucaliptização tem colocado a fisionomia da floresta portuguesa ao serviço da indústria da celulose, criando assim uma cadeia de valor demasiado difícil de ser contrariada.

Portugal produz, anualmente, cerca de três milhões de toneladas de pasta de eucalipto, gerando assim um valor de compra de madeira superior a 300 milhões de euros.

O País é líder na pasta de papel e o sector representa 5% das exportações nacionais.

Aqui na região de Leiria, o eucalipto representa 39,2% da floresta e no período 2005-2015 o seu crescimento foi 14,4%, ao passo que a área de pinheiro-bravo diminuiu 13,7%.

Portanto, assim como o todo nacional, Leiria também tem encetado um processo de eucaliptização.

Nos incêndios agora de Julho arderam 12.500 hectares na região de Leiria e cerca de quatro mil e a Comunidade Intermunicipal (CIMRL) veio referir que é preciso haver um plano de ordenamento florestal.

Mas é demasiado complexo gizar esse ordenamento. A floresta portuguesa é 98% privada, composta maioritariamente por minifúndios e cerca de 2/3 do eucaliptal está ao abandono ou sob má gestão (Público, 9/11/21).

E não é difícil perceber a razão do alargado descuido dos eucaliptais.

Cada hectare dá cerca de 1500 árvores que, ao fim de sete anos, produz 200m3 de madeira. Estando o preço de mercado a cerca de 49 euros/m3, na faina dos sete anos o silvicultor terá um rendimento bruto de 9.800 euros por hectare, i.e., 1.400 euros/ano.

Quantos proprietários de terrenos estão dispostos ao árduo trabalho silvícola para auferir 1.400 euros/ano por hectare?

E num País que já se habituou aos incêndios, o problema torna-se ainda pior.

Visto que o eucalipto é uma árvore de crescimento rápido, a ameaça dos incêndios faz com que o silvicultor estabeleça o ciclo da faina ao fim de quatro anos e não de sete.

Ora, ao fim de quatro anos, o eucalipto tem menos de 25m de altura e menos 18cm de diâmetro, diminuindo assim a metragem cúbica de madeira e, consequentemente, o seu rendimento. Portanto, quanto mais incêndios houver no País, mais terrenos rurais estarão ao abandono.

É um ciclo vicioso muito difícil de ser interrompido.