Opinião

A despoluição do Lis foi pelo cano?

4 mai 2017 00:00

Parece impossível mas aconteceu e, contado, ninguém acredita.

Os suinicultores da região de Leiria “perderam” 9,1 milhões de euros, vindos de verbas comunitárias, para a construção da estação de tratamento que iria resolver o problema da poluição suinícola da bacia do Lis porque, ao fim de três décadas de negociações, e após ter garantida a verba, não conseguiram fazer o mais fácil: adjudicar uma obra.

A Autoridade de Gestão do PDR2020 foi obrigada a anular o contrato de financiamento do projecto, com a Valoragudo, detida pelos suinicultores da Recilis, para o financiamento da construção da Estação de Tratamento de Efluentes Suinícolas (ETES) da Região de Leiria e canalizou a verba para outro projecto para que o País não perdesse o dinheiro.

A Recilis, através da Valoragudo, comprometeu-se a comunicar à Autoridade de Gestão do PDR 2020 a adjudicação do projecto da ETES e a entrega de todos elementos necessários para a confirmação da candidatura ao PRODER, em Setembro de 2014.

Jamais o fez. Ninguém sabe as razões que levaram a Recilis a permanecer estática sem adjudicar a obra que deveria ter sido iniciada a 1 de Janeiro de 2015 e terminada a 11 de Janeiro de 2017. Remete-se ao silêncio. A um “silêncio ensurdecedor”, para quem souber ler nas entrelinhas.

Os suinicultores parecem provar as teorias da conspiração de que, por um lado, as promessas de despoluição dos cursos de água, que são de todos nós e não dos criadores de porcos, foram feitas sob reserva mental e, por outro, que não têm vocação nem merecem estar à frente de um processo que envolve milhões e o nosso futuro.

Provavelmente, se as sanções por poluir fossem realmente penalizantes, haveria já outra atenção e a ETES estaria a limpar os nossos rios e a nossa, cada vez mais preciosa, água.

Os dedos são fáceis de apontar e o rosto dos culpados é conhecido – será que fizeram as contas e perceberam que iriam ter de pagar pelo tratamento muito mais do que o anunciado inicialmente?

Agora, há que tentar minimizar o impacto deste desleixo, se tal ainda for possível.

*Jornalista do JORNAL DE LEIRIA