Opinião

A derrocada da relevância da União Europeia

9 ago 2025 10:23

Os exportadores europeus enfrentarão concorrência desleal, especialmente nos setores automóvel, farmacêutico e de semicondutores

A União Europeia caminha hoje rumo à irrelevância política. O acordo anunciado em agosto de 2025 entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é a demonstração cabal de que a UE abriu mão de sua voz global em troca de “migalhas económicas”. O acordo prevê tarifas de 15 % sobre a maioria das exportações europeias para os EUA — enquanto as importações americanas entram livres de qualquer tarifa.

Esta assimetria é inaceitável: exportadores europeus enfrentarão concorrência desleal, especialmente nos setores automóvel, farmacêutico e de semicondutores; o aço estará sujeito a 50 % de tarifa nos EUA, enquanto o inverso não se aplica ao aço americano. A União Europeia ainda se compromete a comprar 750 mil milhões de dólares em energia, investir 600 mil milhões dólares nos EUA e adquirir equipamento militar americano — tudo isso em nome da segurança transatlântica.

O impacto económico será profundo. O superavit comercial europeu transforma-se num défice: espera-se perda significativa na balança comercial e de serviços, com efeitos diretos no PIB e no emprego. A confiança dos investidores cai vertiginosamente — o índice Sentix registou queda de 4,5 para -3,7 neste início de agosto, sobretudo na Alemanha e Suíça (The Guardian, 04/08/2025).

Este episódio ilustra a fraqueza sistémica da UE. Como disse o Professor Jeffrey Sachs no seu discurso, no passado mês de fevereiro, no Parlamento Europeu: “A UE é ator coletivo sem voz, incapaz de projetar poder ou formular uma política exterior coerente. A Europa deve libertar-se da recusada Russo fobia e procurar negociar também com Moscovo; só assim será possível definir uma diplomacia digna de uma potência de 450 milhões de pessoas e 20 triliões de dólares de economia”.

Esta vassalagem transatlântica mina o legado que fundadores como Monnet e Spaak vislumbravam: uma Europa unida, autónoma, orientada por regras e liderança moral. Em vez disso, temos um continente que assenta em dependência energética, militar e tecnológica dos EUA, sacrificando sua coesão interna e capacidade estratégica.

Parente deste cenário, questiona se: a UE ainda tem relevância? Se permanecer refém de interesses nacionais, incapaz de agir como ator unitário e assertivo, responder globalmente e defender os seus próprios valores, a resposta é simples: não.

É hora de reforçar sua autonomia estratégica, fortalecer instituições que permitam ação adequada à sua dimensão e regressar à diplomacia construtiva que respeite a soberania europeia. A relevância europeia só será restaurada se a União voltar a agir como tal — com voz própria, visão coletiva e determinação estratégica no século XXI.

Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990