Sociedade

Viveu na rua ‘agarrado’ às drogas, hoje é amparo para os sem-abrigo

28 mar 2019 00:00

Jorge Cardinali viveu anos na rua. Hoje, trabalha como mediador de pares na associação InPulsar, apoiando sem-abrigo e toxicodependentes na cidade de Leiria.

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Maria Anabela Silva

Apresenta-se com ilusionista, recordista mundial do Guiness em pratos giratórios e palhaço. Agora também como mediador de pares, fazendo a ponte entre os técnicos da InPulsar - Associação para o Desenvolvimento Comunitário, e quem vive nas ruas de Leiria. As ruas que Jorge Cardinali tão bem conhece, dos tempos em que era sem-abrigo, viciado em heroína.

Da família dos Cardinali, primo de Vítor Hugo, Jorge nasceu há 54 anos, em Penacova, mas grande parte da sua vida foi passada de terra em terra, tendo como morada uma roulotte. Filho de pai ilusionista, que lhe ensinou os primeiros truques e que lhe passou a paixão pela magia, e de mãe acrobata, acabou por assentar arraiais em Leiria. Fê-lo para que o filho mais velho, hoje, com 30 anos, fugisse à vida de saltimbanco e pudesse ir à escola “como as outras crianças”.

A vida viria, no entanto, a pregar-lhe uma “grande rasteira”. Aos 25 anos ficou viúvo, com duas crianças pequenas nos braços. “Senti-me desamparado. Não tive o apoio que precisava da família para me ajudarem a criá-los. Refugiei-me na droga. Quando dei por mim, estava a arrumar carros para matar o vício”, conta Jorge Cardinali.

Nesses “tempos maus” chegou a dormir com os filhos dentro de um carro, mas, mesmo assim, “o mais velho nunca faltou às aulas”. Num dos raros momentos de lucidez, decidiu pedir ajuda para os filhos, que acabariam por ficar à guarda de uma instituição de acolhimento.

Jorge vivia, então, apenas para a droga. “Chegamos a um ponto em que não queremos saber de mais nada, a não ser arranjar dinheiro para a dose. Já não tinha qualquer motivação para fazer espectáculos e ia-me degradando. Estava dias sem tomar banho”. Sobrevivia como arrumador de carros, mas grande parte do dinheiro que juntava era para “matar o vício”.

“Entre comer ou comprar uma dose, não havia hipótese: a heroína levava sempre a melhor. Se tivesse 20 euros, não comprava uma dose de dez e comida com os outros dez. Era tudo para a droga. Preferia comer um pão sec

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