Viver

A ver a banda a passar nas Chãs desde 1896

5 out 2016 00:00

O ensino da música esteve muito tempo a cargo de agremiações cujos elementos mais experientes em anos e sabedoria ensinavam os novos a tocar velhos instrumentos para animar arruadas e coretos em festas de aldeia.

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Jacinto Silva Duro

Hoje, as filarmónicas renovaram-se e atraem os jovens. A das Chãs, que celebra 120 anos, é uma das mais viçosas em Leiria.

Se o tamanho das organizações se medissem apenas pela seu substrato material, a Filarmónica das Chãs, que conta com uma formação filarmónica, uma escola de música, outra de dança, um dos maiores auditórios do concelho de Leiria e mais de 200 jovens músicos e bailarinos, seria necessariamente grande, mas a Sociedade Filarmónica do Sagrado Coração de Jesus e Maria – o seu nome oficial – é ainda maior.

E é-o, precisamente, pelo tamanho do “coração” que bate dentro dela... Um coração e uma alma colectiva formados pela população desta pequena localidade da Freguesia de Regueira de Pontes, Leiria.

Falamos, nesta edição, da Filarmónica das Chãs, usando como argumento, como se desculpas para o fazer fossem precisas, a celebração do 120.º centenário desta associação, que se celebrou no passado fim-de- -semana. Fundada em 1896, não se sabe o dia ou o mês, conta nos seus anais com uma dúzia de décadas de intensa actividade ininterrupta.

"Sabemos qual o ano, devido a bandeiras e outra documentação que têm aparecido", esclarece Dinis Fernandes, presidente da Direcção, desde há 15 anos. Com 63 anos, nado e criado na freguesia de Regueira de Pontes (Leiria), e “filarmónico” há 27, já desempenhava um papel directivo, aquando do primeiro centenário da agremiação, e é o seu timoneiro no ano do centésimo vigésimo aniversário.

Optar pelo ensino oficial?
A Filarmónica deu, nos últimos anos, um grande salto em termos formativos e na qualidade dos seus filarmónicos. Deixou de corresponder à ideia clássica de um mero grupo de músicos que actua em festas da paróquia para se transformar num verdadeiro alfobre cultural. Esse “salto qualitativo”, segundo explica Dinis Fernandes, começou com a ida de Vítor Santos para a filarmónica.

Este professor de música decidiu, no final da sua carreira na Banda da Armada e no Conservatório Nacional de Música, em Lisboa, optar por uma espécie de “reforma activa” e assumir o posto de maestro da Sociedade Filarmónica do Sagrado Coração de Jesus e Maria. E os resultados não se fizeram esperar.

"Uma nova fornada de jovens músicos começou a aprender através de métodos profissionais de ensino, tal como aconteceria no conservatório." Tornar o ensino oficial? Não está nos planos da Direcção e a razão é simples. "Já há duas escolas de ensino oficial em Leiria e não queremos entrar nessa 'competição'. Queremos continuar e ter a melhor filarmónica e o melhor ensino possível", afirma o presidente da Direcção.

Com a aposta em projectos mais profissionais, o perfil dos filarmónicos também mudou. Há três décadas, os filarmónicos eram, maioritariamente, pessoas de média idade que estavam na banda porque queriam ser músicos numa filarmónica. Com o passar dos tempos, a idade de ingresso diminuiu e o principal motivo de entrada passou a ser a aprendizagem de música.

Os jovens músicos começam a aprender entre os 5 e os 7 anos e, aos 10 e 12 anos, alguns entram na banda. Mas isso não significa que todos estes jovens queiram pertencer aos quadros da banda. O final da adolescência e ingresso no ensino superior é uma dor de cabeça para os responsáveis de qualquer filarmónica.

“O maior desafio é manter estes jovens. Devido ao percurso académico, muitos deles saem para irem estudar noutras cidades e já não regressam à terra natal. Acabam-se os ensaios e os serviços na banda”, conta Dinis Fernandes.Mas também não deixa de ser verdade que, cada vez mais alunos ingressam no Conservatório e noutras instituições do ensino superior para estudar música.

No presente ano lectivo, dois alunos inscreveram-se na Orquestra Metropolitana e uma na Universidade de Évora. Há mesmo alunos que estão a frequentar licenciaturas em Jazz.

Nem só de música vive a Filarmónica
A fama do trabalho de Vítor Santos e da restante filarmónica alastrou e o número de músicos aumentou. A música adquiriu maior qualidade e, quase automaticamente, as instalações tornaram-se pequenas para tanta gente.

A solução? Criar um novo auditório, que entrou em funcionamento em 2008. Anos mais tarde, num novo anexo da sala de concertos, foi criada uma escola de música, no piso superior e uma sala para a dança, no inferior. Como resultado, as novas instalações permitiram abrir as portas ao desenvolvimento de outros espectáculos e modalidades no espaço.

O edifício do auditório e sede é hoje a menina dos olhos da Direcção, mas não se limita a acolher a Sociedade Filarmónica do Sagrado Coração de Jesus e Maria. Há, ali, actividades de outras entidades locais. Com a ampliação, por exemplo, foi criada uma escola de dança, a Staccato, da responsabilidade e direcção da professora Cláudia Cardoso, que conta hoje com cerca de 100 bailarinos.

2016, ano em festa
Aniversário celebrou-se domingo

Em ano de celebração, a festa não pára e o passado domingo, teve mais um momento de celebração com a actuação da Banda da Armada. "Por uma questão de conveniência transportamos sempre a data do aniversário para o primeiro fim-de-semana de Outubro, fugindo à época alta em que as filarmónicas têm mais trabalho e ao Verão", explica o presidente da Direcção.

A presença da Banda da Armada marcou o aniversário e aconteceu devido à amizade que liga algumas pessoas da associação como o Vítor Santos, professor, director e consultor para a escola de formação e que, ele próprio, foi chefe da banda da Marinha Portuguesa.

Também o maestro actual, Rolando Ferreira, trabalhou com o actual chefe da formação da Armada, Délio Gonçalves. Olga Prates, uma pianista muito querida junto da comunidade filarmónica, também esteve presente, na festa de aniversário.

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