Economia

Rui Rocha: "O que diferencia Ansião é a qualidade de vida"

12 ago 2016 00:00

O presidente da Câmara aposta tudo na qualidade de vida dos que lá moram. Enquanto prepara nova ampliação do parque empresarial, faz caminho no turismo e aposta em cimentar a marca “Ansião”.

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Paula Sofia Luz

O que é que Ansião tem que o diferencia do resto dos concelhos do norte do distrito?

Qualidade de vida. E nós aqui entendemos a qualidade de vida como a reunião de um conjunto de factores que possam garantir duas coisas: por um lado, que isso representa uma solução e um atractivo para as pessoas, e por outro lado também nos projecta para o futuro. O que temos vindo a fazer – em termos de acção directa do município – é desenvolver uma estratégia que tem conseguido dar corpo a esta ideia, em áreas como educação, cultura, desporto, a própria economia – que de há uns anos a esta parte representa um eixo estratégico para os territórios de baixa densidade. E aqui concorre o parque empresarial do Camporês, que num primeiro momento se desenvolveu com acção directa do Município, através da promoção do loteamento, mas a partir daí com o bom desempenho das empresas. Entendo que esta é o sector que mais facilmente acautelará questões sociais. Se tivermos empresas e emprego, temos rendimento e as famílias podem ter a sua vida organizada e com recursos. Eu sei que os autarcas todos gostam de utilizar as palavras, mas neste caso, julgo que as acções e os actos são praticados por todos, e daí retiro a acção camarária, porque é isso que verdadeiramente nos dá a percepção de como estamos a trabalhar. Por isso é gratificante perceber que a própria sociedade está com uma boa dinâmica.

Isso reflecte-se nas festas do concelho?

Durante muitos anos as festas não eram muito associadas ao concelho, mas mais à vila, que concorriam com as inúmeras festas que temos. Hoje isso não acontece. O que queremos é que as pessoas se apropriem das festas do concelho, que esta seja uma festa da família ansianense. E por isso estão envolvidas as colectividades. Este ano temos uma marca que nos diferencia sobremaneira, que é o cortejo alegórico do povo.

Mas esse não foi um caminho fácil de fazer…

É um caminho que temos feito paulatinamente. No fundo, fico lisonjeado de perceber que o objectivo traçado desde 2009, com a criação da marca Ansião, começa a dar frutos. Com todo o respeito pela capital disto ou daquilo, sempre achei que é um pouco redutor para os territórios. E a marca Ansião é isto: a qualidade de vida do concelho, a importância de viver e sentir o concelho, para que hoje seja possível chegar a este estado notório – a auto-estima do concelho está em cima. Enquanto há uns anos quando nos perguntávamos de onde éramos respondíamos “ali de perto de Pombal”, hoje é um orgulho dizer que somos de Ansião.  Hoje também temos outra projecção.

Sucintamente, como é que apresenta o concelho a quem não o conhece?

É um concelho moderno, dinâmico, empreendedor – e aqui destaco o verdadeiro empreendedorismo pessoal. Cada vez mais as sociedades são feitas por aquilo que as pessoas fazem por elas. Nós temos autarquias, colectividades, empresas e pessoas (que são o nosso grande capital) que fazem o melhor. A Câmara pode ser excelente, mas se não tiver pessoas que queiram perseguir esse grau de excelência…não conseguimos muita coisa. Por isso hoje já se percebe o que queremos dizer com qualidade de vida: boas escolas para os nossos filhos, boa saúde, uma boa dinâmica cultural e desportiva, boas empresas…

O Parque industrial do Camporês esgotou a lotação. A Câmara já está a tratar da ampliação?

Sim, eram 28 lotes, temos apenas quatro nessa fase de ampliação, e candidatamo-nos já (no Portugal 2020) a mais uma fase de ampliação que envolve mais 27 lotes, um investimento estimado em 2,4 milhões de euros.

É intenção da Câmara estender a regeneração urbana às ruas da vila? Como e quando pensa fazê-lo?

Nós fomos das primeiras vilas a apresentar o plano de acção para a Regeneração Urbana. Nos últimos anos empregámos muito do nosso esforço em ter todos os projectos preparados para esta fase do Portugal 2020. Por isso foi muito gratificante ter ido à CCDR na semana passada e, dos 68 centros urbanos de média dimensão, Ansião foi o primeiro ou segundo a fechar o pacote, que nos vai trazer um investimento público na ordem dos dois milhões de euros. Por isso será mais um contributo para essa qualidade de vida, e o custo da qualidade de vida que temos – que é insignificante quando comparado, por exemplo, com leiria e coimbra. Ver a disponibilidade para ter o filho na creche ou na escola, a piscina, termos acesso a um conjunto de coisas.

Já que falamos em acessos, é incontornável a questão do IC8. Apesar de ser hoje mais fácil do que há muitos anos chegar a Ansião, esta é uma via que precisa há muito de ser reconvertida. Como está esse processo?

Vou dizer-lhe o que penso: se todos tivessem lutado no tempo certo da forma como Ansião lutou, para ser resolvida a questão do IC8 (nomeadamente entre Pombal e Avelar), se calhar hoje o assunto estava resolvido. Remámos muito mais contra a maré do que os outros. Dei imensas sugestões - e estamos a falar de eliminar os cruzamentos de nível e ter alguns pontos de ultrapassagem, apenas. É preciso lembrar que o IC8 não é uma estrada qualquer. Nessa ampliação do parque empresarial do Camporês, onde era possível incluir uma intervenção no IC8, as Infraestruturas de Portugal (IP) eram favoráveis desde que nós pagássemos os 15% da obra. Eu acho isto inadmissível. É uma via principal do estado! Por isso vou aproveitar a visita do senhor secretário de Estado das Autarquias Locais (na inauguração das festas) para, mais uma vez, chamar à atenção para isso e para lhe dizer que estamos fartos desta conversa dos territórios de baixa densidade. Isso não pode ser uma discussão verdadeiramente séria. Vimos este governo constituir uma unidade de missão para o Interior. Foi muito simpático mas…ainda não vi nada.

A majoração de 10 por cento atribuída a estes municípios para os fundos comunitários não chega…

Isso não é nada. Os fundos comunitários são questões conjunturais, e nós queremos é questões estruturais, que dêem vida a este território. Nós não podemos estar hoje a ser obrigados a apresentar uma sustentabilidade económica e financeira (para um projecto de ampliação da rede saneamento, em que apresentámos um de quase dois milhões de euros) nas mesmas condições do que Leiria e Coimbra. O que era preciso eram medidas diferenciadoras. Veja o caso das portagens; a A13, que atravessa aqui o território não foi contemplada, ao contrário de outras. Já não bastava haver um país a duas velocidades – o litoral e o interior – agora estão a querer fazer o interior ainda a outra velocidade. E isto é transversal aos vários governos…quando o que era importante era termos medidas não verticalizadas, por ministério, mas quando houvesse uma medida para aplicar ela pudesse ser entendida a diversos níveis e áreas. Imagine a Educação: não podemos comparar a realidade de uma escola profissional como a ETP Sicó, que envolve três municípios, com uma de Lisboa. E às vezes seriam medidas sem custos, por exemplo, em vez do número de alunos ser 21, poderiam ser 18. E com isto sentimos que não há uma estratégia para apoiar estes territórios…

É preciso arranjar sempre doses extra de motivação para fazer o trabalho municipal. Como é que encaixa aí a gestão da dívida? Ainda afecta Ansião?

A nossa situação financeira felizmente está consolidada. Somos um dos municípios sem dívida a fornecedores, com prazo média de pagamentos são 9 dias, estamos a passar a barreira dos 10 milhões de euros de redução de dívida, comparativamente a 2009, e estamos a antecipar a mais de 10 anos não termos dívida. Ela hoje está toda alavancada na banca, por isso julgo que em 2020 teremos todos os nossos compromissos assumidos.

Qual é o valor do orçamento municipal?

Anda sempre na casa dos 10 ou 11 milhões, dependendo do volume de fundos comunitários que possamos também acolher. Hoje já funcionamos no modelo de orçamento base zero, e em 2014 fomos o município que mais concretizou. Temos taxas de execução 98 e 99 por cento.

E relativamente às festas, quanto vão custar este ano?

O orçamento anda sempre à volta dos 70, 80 mil euros. Este ano é um pouco mais porque temos o cortejo alegórico do povo, que implica uma comparticipação às 12 colectividades de 750 euros.

Nunca considerou que o cortejo passasse a realizar-se todos os anos?

Até equacionámos o contrário…passar a realizar-se de 4 em 4 anos, a exemplo de outras festas no país, como Tomar. Estas coisas para serem marca não podem banalizar-se. Mas há aqui um trabalho enorme das colectividades, gente que faz isto voluntariamente. Neste 12 carros estarão seguramente mil pessoas envolvidas. Uma das alterações que fizemos nestes dois mandatos que levo, foi transferir o cortejo para o sábado à tarde, de forma a que os carros possam ficar em exposição até ao fim das festas. Porque temos sempre aqui duas questões nas festas: reunir a família ansianense, e também trazer gente de fora e potenciar a marca Ansião.

A mostra de actividades traduz essa dinâmica económica ou as empresas não se revêem no modelo?

Houve aqui alguns anos em que esteve um pouco adormecida, mas felizmente hoje revitalizou-se. Temos cerca de 80 expositores, sendo que 45% são empresas. O resto serão instituições, artesanato, produtos endógenos. A nossa ideia é que quem passe pelas festas tenha uma boa percepção do que é a região e não apenas o concelho.

Um dos momentos altos das festas será a inauguração das bancadas do estádio. Foi uma obra que recuou no investimento. Não ficou prejudicada, em termos do resultado final?

Esse é um tema caro para mim. Foi das minhas primeiras decisões como presidente, anular o concurso público que estava em fase de adjudicação, com um custo superior a um milhão de euros. Achei que era demasiado para uma bancada coberta, quando tínhamos outras coisas para fazer. E vamos agora inaugurar essa obra, por menos de metade desse valor. Adequámos um pouco a execução do investimento às nossas necessidades, conseguindo o mesmo efeito. Houve um tempo em que achávamos que tínhamos de ter os maiores investimentos do mundo, porque um dia qualquer coisa lá iria acontecer. Mas a lógica não pode ser essa. Temos é que projectar este tipo de investimentos para servir a nossa população.

Tem havido uma aposta no Turismo, nos últimos anos. Que projectos estão em curso?

Sim, tem havido esse esforço, mas pouco acompanhado pela Entidade Regional de Turismo do Centro. Temos reclamado muito, porque a aposta tem de ser supramunicipal. O turista não procura a linha geográfica que separa Pombal de Ansião ou de Alvaiázere. Por isso deveria haver uma estratégia supramunicipal par o Turismo. Também não ajuda o facto de ter 100 concelhos para gerir, quando nalguns casos [a Entidade de Turismo] está muito longe. O que nós desafiámos a ERT a fazer era entregar-nos os recursos para determinados projectos, e nós faríamos essa gestão, localmente. Temos agora um projecto intermunicipal , de Ansião e Alvaiázere, único no âmbito da CIMRL (Comunidade Intermunicipal da Região e Leiria) que é recuperar  e valorizar a maior mancha de carvalho cerquinho da Península Ibérica.

E o turismo low-cost, a partir da recuperação das antigas escolas primárias, como está a correr?

Tem corrido bem, entregámos essa gestão à ETP Sicó e está a funcionar. Por outro lado temos o nosso complexo monumental de Santiago da Guarda (único monumento nacional), para o qual estamos também a preparar uma candidatura ao Portugal 2020, para haver alguma autonomia na visitação. Por isso, não tanto do ponto de vista municipal, mas no âmbito da iniciativa privada, ainda falta aqui dar um salto, bem como desenvolver a animação turística. Volto à questão supramunicipal: alguém que chegue a Ansião, chega aqui e usufrui desta localização geoestratégica, que permite ir a Fátima, à Praia das Rocas, a Coimbra, ao Rabaçal, a Pombal. A nossa aposta vai também para a integração dos caminhos de Fátima (rota das Carmelitas) e Caminhos de Santiago.

Que grandes obras ainda lhe faltam fazer em Ansião?

Sinto-me feliz por dizer que não faltam assim grandes obras. Temos de perceber também que o paradigma de gestão autárquica mudou, que o tempo dos grandes investimentos passou. É verdade que temos um conjunto de intervenções e obras para fazer, nomeadamente nas freguesias, mas estes projectos que nós temos agora são (uns mais do que outros) os que nos projectam para o futuro. Será sempre o caso do parque empresarial, da continuação da regeneração urbana a outras zonas da vial (são mais dois milhões de euros), incluindo o mercado municipal, a nossa infraestrutura que não está ao nível do outro conjunto de equipamentos. E está com boas hipóteses de ver financiada a sua requalificação.

E o saneamento? Qual é a taxa de cobertura neste momento?

É de 40 %. Pretendemos avançar para os 60% pelo menos, e é esse conjunto de projectos que também já temos desenhado, e dependerá também dos fundos comunitários. Por isso o nosso grande desafio já não é tanto a construção, mas a manutenção e conservação, bem como garantir a utilização dos equipamentos a custos que as pessoas o possam fazer. Nós temos um défice anual de cerca de um milhão e 300 mil euros na exploração dos vários serviços; por exemplo, na piscina, o défice anual é entre 150 a 200 mil euros. Fecho a piscina? Claro que não. Eu sei que não temos gente suficiente para tornar rentável aquele equipamento, mas é importante assegurar este défice para que as pessoas possam ter acesso aos equipamentos. Hoje vejo a hidroginástica, os maiores de 65 a utilizarem a piscina, as crianças pequenas que lá vão, e penso que é o caminho. Sei que do ponto de vista político se calhar tinha mais visibilidade aplicar esse dinheiro numa estrada, mas fico feliz ao perceber que dos 10,5 milhões do orçamento, mais de 1.300 vai para estes equipamentos, para o transporte escolar e outros. Não queremos nem de perto nem de longe implementar a lógica do custo do utilizador pagador. Para mim o futuro desenha-se assim, e vai ser desafiante: libertar-nos de algumas amarras do ponto de vista financeiro, e por outro lado não deixamos de fazer investimento. Por isso o futuro não é de grandes infraestruturas, mas antes da qualidade de vida.