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Rita Carmo mostra em Leiria imagens de concertos inesquecíveis (e uma foto dos Blur resgatada do lixo)

2 fev 2024 09:00

A fotógrafa do Blitz (que é natural de Leiria) inaugura este sábado uma nova exposição, o pretexto para uma conversa sobre 32 anos na linha da frente da indústria da música

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Iggy Pop, Super Bock Super Rock, Lisboa, Julho de 2016
Rita Carmo

De todas as fotografias que vão poder ver-se em Leiria, “é talvez tecnicamente a menos bem feita”, assinala. O slide “chegou a estar no caixote do lixo”, no entanto, “acabou publicada”. No Blitz, claro, onde Rita Carmo trabalha desde 1992. Mostra os Blur no Coliseu dos Recreios, Lisboa, em 1996.

Na exposição a inaugurar este sábado estão reunidas 23 imagens de concertos, todas de Rita Carmo, natural de Leiria, um dos nomes mais respeitados em Portugal na reportagem de espectáculos e que em 2023 recebeu o prémio Women in Music atribuído pela Associação Portuguesa de Festivais de Música (APORFEST).

São 32 anos na linha da frente, a documentar os maiores, nacionais e internacionais.

Na Fonte Luminosa, entre 3 de Fevereiro e 8 de Março, surgem o primeiro trabalho “mais a sério” (Carlos Paredes no São Luiz) e também um dos mais recentes (Carminho no Coliseu). Pelo meio, há Nick Cave numa noite de chuva no Primavera Sound do Porto, Nirvana, Madonna, AC/DC, Coldplay (sim, em Coimbra) e vários portugueses, em que se destacam, como realeza, Xutos & Pontapés, Sérgio Godinho ou Jorge Palma. “Pertencem à nossa história”. 

A exposição Foto Passe, a primeira da fotógrafa em Leiria desde 2013, inclui imagens inéditas e registos obtidos no Sudoeste, no Paredes de Coura, no Rock in Rio, no Dramático de Cascais, no Estádio de Alvalade, no Meco, no CCB, na Altice Arena e no Johnny Guitar, entre outros cenários.

Rita Carmo fala sobre como “praticamente tudo mudou” na indústria da música e dos eventos, da edição e distribuição às características do público e da dimensão e capacidade técnica dos recintos à diversidade da oferta, durante uma conversa moderada por Carlos Matos (presidente da associação Fade In) que decorre no sábado, com início às 16:15 horas, no Centro Cívico de Leiria, junto à Rua Direita.

Depois de ocupar o Teatro José Lúcio da Silva, em 2013, no contexto da edição do livro Bandas Sonoras, Rita Carmo volta a expor na cidade em que viveu até aos 18 anos, mas agora na Fonte Luminosa.

A escolha “foi difícil”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. Sobretudo, porque a repórter nascida em 1970 procurou “alguma representatividade da música portuguesa” e fotografa “muito mais estrangeiros do que portugueses em concerto” e também porque quis equilibrar os números entre homens e mulheres – “é uma questão de bom senso” – mas o rock ainda é um mundo mais masculino do que feminino.

Outro objectivo, proporcionar “uma leitura cronológica”, porém, com os anos de 1999 a 2008 fora do mapa “por questões técnicas” – são os anos das primeiras máquinas digitais, ainda sem a qualidade que os equipamentos posteriormente passaram a oferecer.

Nos últimas décadas, a indústria da música ao vivo tornou-se “muito importante”. O público valoriza a experiência e “as sensações”, mas igualmente relevante é “ir a um espectáculo e mostrar aos outros nas redes sociais”, analisa Rita Carmo.

Para os artistas, se antes “chegar a um coliseu ou a um estádio era uma coisa incrível”, hoje é mais frequente e alguns conseguem-no relativamente cedo na carreira.

Rita Carmo é autora do álbum fotográfico Jorge Palma por Rita Carmo lançado no final de 2023 pela Coral Books. Além de várias exposições, editou Altas-Luzes em 2003, Portugal XXI - Imagens de Sons Portugueses em 2008 e Bandas Sonoras - 100 Retratos na Música Portuguesa em 2013.

Em paralelo com o Blitz, onde se mantém como fotógrafa residente, publicou no Expresso, Forbes Portugal, Melody Maker, Daily Mail e Le Figaro Magazine, entre outros meios.

Também contribuiu com imagens para a edição de diversos discos e campanhas de promoção de artistas, entre eles, por exemplo, Sérgio Godinho, Jorge Palma, Xutos & Pontapés, Carlos do Carmo, Dead Combo, Bernardo Sassetti, Pedro Abrunhosa, The Gift , Deolinda, Samuel Úria, Aldina Duarte ou António Zambujo.