Sociedade

Restauração, turismo e hoteleiros têm de trabalhar em conjunto

13 jul 2018 00:00

Em banho-maria|O tempo quente e os céus azuis de Verão continuam sem se revelar na região e quem trabalha no turismo e alojamento diz que os números das reservas são semelhantes aos do ano passado. Para o bem e para o mal, Leiria continua longe do turismo

Mathew, Prasanth e Prakash (Fotografia: Ricardo Graça)
Familia Wydaeghe escolheu Portugal como destino de férias
Familia Wydaeghe escolheu Portugal como destino de férias
Familia Wydaeghe escolheu Portugal como destino de férias
Jacinto Silva Duro

Alcobaça, Batalha, Fátima, Nazaré e Tomar continuam a ser os destinos turísticos mais procurados na região, acompanhados, a sul, por Óbidos. Leiria, a capital do distrito, mantém-se praticamente desconhecida de turistas e operadores turísticos, embora, quem a visite e quem organiza pacotes turísticos reconheça que há locais turísticos interessantes, que poderiam levar mais visitantes à cidade.

Porém, levar os operadores turísticos a alterar as rotas estabelecidas há anos, parece ser tão concretizável quanto fazer o Sol rodar à volta da Terra. Sem grandes atracções, como os grandes monumentos ou uma onda de tamanho fenomenal, o que se poderia fazer para captar mais visitantes?

“Apostar em mercados diferentes”, sugere, Tiago Piedade Gomes. O gerente do Hotel Villa Batalha explica que a unidade hoteleira de quatro estrelas da Batalha acolhe, nos seus 93 quartos, visitantes oriundos da Rússia, Médio Oriente e Índia, que escapam aos “mercados tradicionais” europeu e norte-americano.

Mas, para isso, foi preciso fazer um trabalho de divulgação e captação de clientes nesses mercados internacionais. A tarefa, explica, é “especialmente difícil”, pois o Villa Batalha avançou sozinho nesta tarefa.

 

Mathew, Prasanth e
Prakash são três indianos
originários da região onde Vasco
da Gama aportou que quiseram
visitar o país-natal do navegador

 

“O mercado internacional está a crescer muito no nosso hotel. Se as empresas de restauração e turismo e os hoteleiros da região soubessem trabalhar em conjunto, conseguir-se-ia mais mercado do que a trabalhar a solo. Não podemos ficar à espera de uma aposta clara das autoridades locais… não há D. Sebastiões no turismo. Temos de ser nós a fazer”, adianta o responsável.

A solução poderia ser a simples canalização de acções estratégicas, através da criação de um gabinete de promoção no seio Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL). “Exercemos uma acção agressiva nos mercados que nos interessam, uma acção que poderia ser copiada, mas que, até agora, não o foi.”

Por outro lado, diz, tem de haver uma maior preocupação e investimento no acolhimento dos turistas.

“Se um estrangeiro, fora do hotel, num restaurante, na autarquia ou na polícia não encontra quem o ajude e fale inglês, pelo menos, ele não regressará. O mercado exige serviços com formação e mais sítios onde ir”, enfatiza o responsável do Villa Batalha, sublinhando que a região de Leiria consegue, sem esforço, fazer estas alterações, pois tem os recursos humanos qualificados necessários, muitas vezes, desaproveitados.

“Basta querer. Apenas isso.” Tiago Piedade Gomes deixa ainda um aviso sério. Se até agora, a violência no norte de África tinha desviado o mercado do centro da Europa, em especial o alemão, para Portugal, a acalmia civil em países como a Tunísia e Marrocos, estão a fazer com que os turistas regressem a estes destinos mais baratos e apetecíveis.
 

 


A família Wydaeghe
esteve na dúvida entre Portugal e
Finlândia para as suas férias de
Verão. Escolheu o nosso País, mas,
chegando à Batalha, desviou-se
de Leiria para ir visitar Tomar
 

“As nossas expectativas, porque apostamos num mercado mais empresarial e de eventos, são iguais às de 2017, embora admita sentir uma ligeira estagnação no mercado em geral. Por outro lado, o Verão tem estado um pouco ‘escondido’ e só agora as pessoas começam a sentir necessidade de sair de casa para aproveitar o período estival”, diz o responsável pelo Villa Batalha.

Em Leiria, no Atlas Hostel Julho ainda agora começou, mas parece que vai ser semelhante a 2017. “Temos turistas do norte da Europa mas, este ano, há mais brasileiros que vêm de férias ou que se pretendem fixar em Portugal. Como não conseguem encontrar logo um apartamento, ficam cá. Este ano, mais do que duplicaram”, adianta Luís Marques, sócio-gerente daquela unidade hoteleira.

De Lisboa e Porto, surgem reflexos do crescimento turístico em Portugal, mas, sem estatísticas que possam apoiar esta visão, o responsável diz que o número de turistas não aumentou. “Quando comparado com Coimbra, que é um destino clássico, e perante o investimento que a autarquia de Leiria tem feito, que é superior ao de Coimbra, não há termo de comparação.”

Leiria? Parece ser um sítio agradável. Pode ser que lá passemos
Koen e Barbara Wydaeghe escolheram Portugal como destino de férias, este ano. O casal belga rumou ao Algarve para passar 17 dias a visitar as praias, os monumentos e a aproveitar o clima e a gastronomia. No final das férias, contam estar no Porto, para apanhar o avião de volta ao país natal. Na véspera do jogo Bélgica – França, no Mundial da Rússia, passaram pela Batalha para conhecer o mosteiro.

“Evitámos Lisboa, porque a nossa filha mais velha magoou-se num pé e seria preciso andar imenso”, explica Barbara, que revela saber muito da história do Mosteiro da Batalha. "Ou íamos à Finlândia ou vínhamos cá. Quando optámos por Portugal, nem sequer olhámos para os preços. Queríamos boa comida e bom tempo… embora, neste momento, a Bélgica esteja a ter as temperaturas que seriam de esperar em Portugal. Mas aqui há de tudo: praia, vinho, comida, monumentos...”, explica Koen.

E Leiria? “Não sabemos onde é. Tínhamos pensado ir a Tomar, após a Batalha. Mas temos de encontrar um sítio para ver o jogo, com esplanada e uma grande televisão. Se calhar, iremos para Leiria, parece agradável”, promete Koen.

“Leiria é um mercado atípico. Há turistas que procuram os eventos culturais, como o Entremuralhas ou o recente encontro de carros eléctricos, e há emigrantes, sobretudo de França e do Brasil, de segunda e terceira gerações, que vêm procurar as suas raízes, ficando entre cinco a oito dias”, resume o director- geral dos hotéis Eurosol.

Acácio Mendes, que tem a seu cargo 193 quartos em dois hotéis na cidade do Lis – Eurosol Leiria & Jardim e Eurosol Residence, diz que as nacionalidades que mais procuram a cidade são os portugueses, os espanhóis, os franceses, os alemães, os norte-americanos e os holandeses.

“Relativamente a 2017, que foi o ano de visita do Papa e do Centenário de Fátima, o número de reservas está um pouco abaixo, o que significa que a procura está a ser a habitual em relação aos anos anteriores, quando não se verificaram essas efemérides”, resume.

Quem também jamais ouviu falar de Leiria são Mathew, Prasanth e Prakash, três turistas de origem indiana, companheiros de trabalho nos Emiratos Árabes Unidos, que, todos os anos, viajam para um destino diferente. “Estes ano, resolvemos vir a Portugal”, diz Mathew.

Os três divertem-se a tirar selfies com a estátua de D. Nun’Alvares Pereira e o Mosteiro da Batalha, em fundo. “Porquê Portugal? Porque ouvimos falar muito e porque somos do sul da Índia, da praia onde Vasco da Gama aportou há muitos anos”, esclarece Prakash, revelando um conhecimento sobre aquela figura história dos Descobrimentos que envergonharia muitos portugueses.

Em Portugal, demoraram-se apenas três dias, uma vez que se deslocam n

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