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A razão para o teu namorado te chamar de "fofinha"? A culpa é da mãe dele

12 jan 2018 00:00

Vice Portugal | Por que é que os casais falam com aquela voz de bebé meio irritante?

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Texto da Vice Portugal, reproduzido numa parceria com o JORNAL DE LEIRIA

Se há alguma coisa mais hedionda do que um casal apaixonado, é um casal a falar com aquela vozinha de bebé - e é por isso que o meu namorado me chama de "chata do caraças" e é por isso que eu o amo.

Mas, por que é que, afinal de contas, grande parte dos casais insistem em conversar como se fossem idiotas? E haverá outro termo mais apropriado para manifestar afeição pelo teu parceiro do que “Mãe”, como disse uma vez o vice-presidente norteamericano Mike Pence?

A maioria dos especialistas concorda que adultos a falarem com voz de bebé, no âmbito de um relacionamento romântico, tem o efeito de criar laços. A um nível fundamental, chamares ao teu namorado “bebé” ou, mais horrível ainda, “fofinha”, é uma forma de solidificares o laço entre vocês.

Porquê? Culpa a tua mãe. “É uma prática muito comum em várias culturas, com mães de todo o Mundo”, explica a neuro-antropóga da Florida State University, Dean Falk, autora de Finding Our Tongues: Mothers, Infants, and the Origins of Language e especialista nas origens do desenvolvimento da linguagem humana.

“Isto existe no processo de aquisição da fala entre bebés e também expressa amor e facilita a criação de laços entre mãe e filho”, diz a especialista, ao explicar que vários estudos mostram que os bebés adoram quando a mãe fala dessa forma - e também quando outras pessoas usam esse tom de voz.

Tratando-se de laços entre adultos, Falk acredita que um princípio semelhante é aplicado. E justifica: “a minha hipótese é extremamente simples. Ao falarem dessa forma, os casais voltam à sua própria experiência quando eram crianças e ao primeiro amor, as suas mães”.

Especialistas em linguística concordam que falar com voz de bebé tem um papel na formação de laços. No entanto, também se interessam em examinar os termos carinhosos específicos que os casais tendem a usar.

“Geralmente, quando os bebés começam a adquirir a fala, usam a vogal 'a' e consoantes como 'p', 'b' e 'm' porque são bilabiais [um som causado pelo fechar ou quase fechar dos lábios] e são mais fáceis de pronunciar”, explica o professor Frank Nuessel, da Universidade de Louisville.

Como resultado, palavras como “bebé” são comuns em conversas de adultos quando recorrem a esse tom de voz. Para Nuessel, a voz de bebé não é só uma questão de laços - é, também, uma questão de fornecer a adultos um espaço para se expressarem, livre das convenções chatas da conversa humana normal.

“Uma das razões é o iniciar de um cenário de interpretação, para que os dois participantes se sintam livres para expressarem os seus pensamentos e sentimentos num enquadramento confortável”, detalha.

E acrescenta: “isso dá a ambos uma certa liberdade em trelação às restrições dos papéis adultos convencionais”. A vida adulta pode ser opressiva e exaustiva – particularmente se tivermos em conta a energia despendida na manutenção da ilusão de que és um adulto totalmente funcional, em vez de apenas uma criança a fazer de conta.

É nesse ponto que entra o falar com voz de bebé, explica, por sua vez, o psicoterapeuta Nan Wise. “Há sete sistemas emocionais básicos nos animais – é como fomos programados evolutivamente. Esses sistemas – incluindo raiva, medo, cuidado e brincar – podem até formar parte de infra-estrutura neurológica do cérebro", diz o especialista.

Wise argumenta que a necessidade de falar com voz de bebé toca noutros sistemas embutidos. “Quando são jovens, todos os animais aprendem a brincar. Essas conexões sociais são fundamentais para o bem-estar.

Portanto, usar voz de bebé na comunicação com outra pessoa é uma forma de facilitar esses sistemas de apego inatos de brincar e de cuidar”, salienta Wise. Mas, claro, se estás a tentar sair um pouco do mundo e libertar um bocadinho de stress, porque é que não te envolves na brincadeira adulta definitiva – sexo – e deixas a voz de bebé para a criançada?

Texto de Sirin Kale