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“Quando fazemos uma sessão de música é uma loucura” - Pedro Santos

19 dez 2015 00:00

O presidente d'Os Vizinhos considera que a Marinha Grande é uma cidade muito industrial e as pessoas trabalham desde cedo. Acabam o dia, vão ao supermercado e seguem para casa. Vê-se cada vez menos pessoas na rua à noite.

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Jacinto Silva Duro

Como surgiu a ideia de criar a associação cultural Os Vizinhos, na Marinha Grande que, embora tenha muita vida associativa, tem défice de colectivos ligados à expressão artística?
Surgiu comigo e com o Tony Silva. Somos do tempo da sede do Império, dos concertos no Sport Operário Marinhense, dos concertos da Cisco – a primeira vez que vi Linda Martini foi na Fábrica da Palha, num desses espectáculos. Nós somos malta na casa dos 27/29 anos e crescemos nesse momento interessante na Marinha Grande. Depois abriu o Ovelha Negra, que se manteve com concertos regulares durante dois anos. Um dia, eu e o Tony falámos com o responsável e explicámos que queríamos levar lá bandas de que gostávamos. E levámos. Levámos The Year, Iodine, These are my Tombs, Horse Head Cutters, os Lydia's Sleep e os Bisonte. As pessoas gostaram daqueles espectáculos e o “bichinho” ficou. Foi assim que começámos as Hard Sessions. Isso também aconteceu porque fui à primeira edição do Vodafone Mexefest e fiquei fã daquela ideia de festival rua acima e rua abaixo. Claro que, na Marinha Grande, era impossível fazer uma coisa tão grande, por isso adaptámos as Sessionsà nossa escala e fomos à procura dos comerciantes, porque tínhamos de aplicar o modelo ao espaço do centro tradicional da cidade.

Acabaram por organizar um evento que conta com concertos em vários espaços e ainda tem um jantar pelo meio.
O jantar aconteceu porque o núcleo d'Os Vizinhos é constituído por um grupo de pessoas que gostava de se juntar na Ordem, em tascos, a petiscar, e as conversas sobre o estado e ausência de iniciativa na Marinha Grande surgiam sempre. Acreditamos que falar à volta de uma mesa de jantar é uma boa oportunidade para aparecerem ideias. Foi por isso que resolvemos começar as Sessions mais cedo e meter um jantar pelo meio, para as pessoas não saírem do centro. Queremos que se viva o centro de alguma forma, com o programa que estamos a oferecer.

As bandas que levam têm um som mais “pesado”. O ambiente “industrial” da cidade também dita isso?
Sim. Sempre bandas pesadas. Somos muitas pessoas na associação e, cada um de nós, tem uma opinião diferente sobre o tipo de som… Crescemos com os 605 Forte e com os No More, e o ambiente é propício a esse tipo de música… até podemos levar alguma coisa mais calma, mas estamos muito ligados à rockalhada.

Perfil
Um ano a servir à mesa de Sting e Bono

Pedro Santos, 31 anos, é natural da Marinha Grande. Estudou na Calazans Duarte, seguiu para a Universidade Moderna, para estudar arquitectura, mas a sua passagem por lá coincidiu com o encerramento do estabelecimento de ensino superior. No pico da confusão, tinha um bilhete de avião para ir, durante uma semana, visitar o primo a Inglaterra. Foi e ficou. No primeiro ano, não conseguiu ingressar na universidade por questões burocráticas, optando por passá-lo a servir à mesa num dos melhores restaurantes em Londres. “Vi o Sting, vi o Bono, vi o Gavin Rossdale, com a Gwen Stefani e outros. Quando acabou o ano, fui para a University of Creative Arts, em Canterbury, no sul, fazer o mestrado. É uma cidade como Leiria, cheia de estudantes, onde os alunos ficam numa espécie de aldeamento como os do Algarve, com casinhas e relva.” Depois regressou a Portugal, para trabalhar na área. Passou pelo Rehabita Porto, foi o The guy who wants to be american, na webserie criada por Carlos M. Barros e foi um dos responsáveis pela criação do FABRICA.cowork, na Marinha Grande.

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