Sociedade
Procissão dos Caracóis na Batalha já é Património Cultural Imaterial
A procissão dos caracóis tem origem numa visão mística de Nossa Senhora, algures entre os séculos XV e XVI, por uma pastorinha, que levaria, por acção papal, à criação do Santuário do Reguengo do Fétal

A “Procissão Nocturna de Nossa Senhora do Fetal”, conhecida como a Procissão dos Caracóis, no Reguengo do Fetal, na Batalha, foi inscrita como Património Cultural Imaterial.
A Câmara da Batalha submeteu, em Janeiro de 2024, através do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, a candidatura para a inscrição desta festa religiosa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, com a colaboração da Junta de Freguesia de Reguengo do Fetal, da Comissão da Igreja Paroquial do Reguengo do Fetal e da comunidade desta freguesia e seus emigrantes”.
Através do anúncio assinado pelo presidente do conselho directivo do Património Cultural, João Soalheiro, publicado em Diário da República, na sexta-feira, lê-se que esta inscrição destaca “a importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade”.
"Congratulamo-nos com esta decisão que classifica a Procissão Noturna de Nossa Senhora do Fetal como Património Cultural Imaterial, e assim reconhece a importância de manter viva uma tradição tão peculiar, criada anualmente por toda a comunidade. Esta conquista é uma aspiração antiga e que agora se torna real", sublinhou Raul Castro, presidente da Câmara da Batalha, citado numa nota de imprensa.
A Procissão Nocturna de Nossa Senhora do Fétal tem na sua génese o milagre da aparição de Nossa Senhora do Fétal a uma jovem pastora. A singularidade desta festividade é a iluminação nocturna criada a partir dos pavios colocados em cascas de caracol, utilizadas como lucernas, dispostas em vários locais, desenhando saudações à Virgem, através de cruzes, tronos, moinhos ou animais que decoram paredes, muros e casas.
O trabalho de investigação ajuda a dar evidência desta manifestação e foram entrevistados idosos, crianças que também participam na procissão e até imigrantes vindos dos EUA. “No Verão e na altura da procissão, vêm propositadamente para participar na festa. Há um senhor, o senhor Joaquim, que tem a casa mesmo no centro do Reguengo e abre as portas para fazer as filhoses, uma iguaria muito associada às festas”, exemplificou ao JORNAL DE LEIRIA Ana Moderno, conservadora do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha (MCCB), em Agosto.
A procissão dos caracóis tem origem numa visão mística de Nossa Senhora, algures entre os séculos XV e XVI, por uma pastorinha, que levaria, por acção papal, à criação do Santuário do Reguengo do Fétal e ao estabelecimento de peregrinações até esta aldeia.
A celebração integra três procissões: na primeira, realizada no último sábado de Setembro, à noite, a imagem de Nossa Senhora desce da ermida para a igreja paroquial. Na segunda, no sábado seguinte, também à noite, faz o percurso de regresso, e, no domingo de manhã, começa uma nova procissão a partir da igreja em direcção à ermida, onde é celebrada missa.
Nas procissões nocturnas, todos os caminhos entre a igreja paroquial e o Santuário de Nossa Senhora do Fétal são iluminados com pequenas lamparinas feitas com cascas de caracóis.