Sociedade

Presidente do Município de Leiria escreve ao governo para travar exploração de gás na Bajouca

2 dez 2019 12:13

Gonçalo Lopes afirma que se Portugal quer ser o primeiro País a alcançar neutralidade carbónica, não pode ter exploração de gás

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A população da Bajouca tem-se manifestado contra a prospecção de gás na freguesia
Ricardo Graça

Gonçalo Lopes, presidente do Município de Leiria, enviou hoje uma carta ao ministro do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, a apelar que trave a exploração de gás na freguesia da Bajouca, resgatando a concessão de exploração de gás natural, atribuída a uma empresa australiana.  

O autarca explica que a carta surge na sequência de uma missiva que o ministro enviou à activista Greta Thunberg, que deverá chegar hoje ao País, onde afirma que Portugal é um dos países europeus que mais sofre com as consequências das alterações climáticas.  

“Temos uma estratégia nacional ambiciosa de adaptação às alterações climáticas que temos seguido à risca porque, para Portugal, trata-se de um problema atual e não do futuro”, refere a carta redigida pelo ministro, citada pelo presidente da Câmara de Leiria.  

Gonçalo Lopes considera que o Governo “deve aproveitar esta grande oportunidade para afirmar que não quer a exploração do gás e resgatar a concessão”, pois “os custos desse resgate são reduzidos uma vez que ainda não foi feita prospecção".

"Acredite, só temos a ganhar com esta decisão. Portugal deseja, dentro de poucos anos, ser o primeiro país a alcançar a ambiciosa neutralidade carbónica. Mas essa meta, traçada para 2050, não é compatível com a existência de explorações de gás no nosso país”, alertou o presidente.  

Para Gonçalo Lopes, a aposta “deve ser nas energias de natureza renovável, como, de resto, está previsto nas linhas de apoio comunitárias”.  

Na carta, onde o presidente do Município de Leiria desafia o governante a visitar a Bajouca, “que também é Europa e também quer continuar a ser verde”, refere ainda que “num país que traçou para si próprio metas ambientais ambiciosas, esta posição é um contra-senso”, sublinhando que “o gás tem os dias contados”.

“Sabemos que esta concessão na região de Leiria foi atribuída em 2015, no final do mandato do XIX Governo Constitucional de Portugal, de uma forma atribulada. Dessas concessões, já caíram as do petróleo, restando duas de gás”, recordou.  

Gonçalo Lopes revela também que, nas últimas semanas, a autarquia tem trabalhado com especialistas e investigadores no âmbito da Avaliação do Impacto Ambiental desta concessão de gás.

“A posição é unânime: A exploração de gás na Bajouca, ou em qualquer ponto do país, não faz sentido para quem quer descarbonizar Portugal.”  Para o presidente, esta exploração “não é solução para Portugal, seja do ponto de vista ambiental ou financeiro”.  

“Aliás, a exploração de gás nesta localidade não representaria qualquer vantagem para o consumidor português, que continuaria a ter de suportar a mesma factura energética. Para o Governo, a compensação a receber seria, além de diminuta, fracionada em montantes irrisórios ao longo de dolorosos anos de exploração”, reforça na carta.

 Na mesma missiva, Gonçalo Lopes recordou ainda que a região de Leiria “tem sido a mais atingida pelos fenómenos resultantes do aquecimento global: o avanço do mar na costa, em especial na Praia do Pedrógão em 2013; o trágico incêndio do Pinhal de Leiria em 15 de Outubro de 2017; e a tempestade Leslie, que, dia 13 de Outubro de 2018, deixou um profundo rasto de destruição nesta região”.  

“Se a globalidade dos portugueses admite a exploração do lítio, incluindo ambientalistas, por representar uma opção energética do futuro, já o caso do gás é difícil de entender ou defender por quem se comprometeu com a construção e uma Europa verde”, insistiu.