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Palavra de Honra | O futuro à carteira pertence.

11 mar 2021 09:37

João Pombeiro, editor da Reverso Editora

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Já não há paciência... para observar a liturgia de alguém que, ali mesmo à nossa frente, em slow motion, na caixa de supermercado, arruma a carteira como se estivesse a cumprir um exercício de ioga.
 
Detesto... ter de explicar às pessoas que sou um tipo a modos que tipo, benfiquista, sonolento, que gosta de recortar jornais e fumar charutos em silêncio. Não se nota logo?
 
A ideia... isso mesmo, a ideia. Continuo à procura. Testei várias e népia. Continuarei a escavar, qual garimpeiro de sei lá o quê. Pobrete mas alegrete.
 
Questiono-me se... conseguirei raspar as camadas de cinismo que ainda mantenho, apesar de já ter destruído boa parte do edifício.
 
Adoro... comer sardinhas na broa (fatia semi-grossa, fait attention), quantidade extravagantemente certa de azeite e indumentária barata a condizer: calção de banho e chinelo no pé.
 
Lembro-me tantas vezes... de um Rámon Allones que fumei há uns anos valentes. Horinha e meia de antologia. Esse sabor só regressa agora em forma de sonho, o cabrão.
 
Desejo secretamente... ter o temperamento do Eric Cantona, a voz do Neil Hannon e a escrita de Javier Marías.
 
Tenho saudades... de um bom linguado de 1995, 1996. Leiria vintage.

O medo que tive... quando a tensão arterial me encontrou na curva, saia curta, a meretriz. «Faço tudinho para ti», suspirou. Estamos juntos há vinte e dois anos. Sempre com altos e baixos, como qualquer casal. Habituei-me. Há vida piores.
 
Sinto vergonha alheia... sempre que oiço alguém perorar: «Não duvidem do meu profissionalismo!» Já do meu duvidem sempre: há muitos dias em que não faço a ponta de um corno.
 
O futuro... à carteira pertence.
 
Se eu encontrar... a Sophia Loren em Roma, ali por volta de 1964, não me acordem, por favor.
 
Prometo... está prometido. Quando a sociedade anónima Jesus e Vieira Lda. abrir falência converto-me ao veganismo. É peaners.
 
Tenho orgulho... muito mesmo. Nos meus pais. No meu filho. Achavam que eu não iria provocar um momento «O que dizem os teus olhos?», não achavam? Temos pena.