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Palavra de Honra | A província não tem que ser só paisagem nem só de passagem

6 mai 2021 11:28

Vânia Colaço , designer e artista plástica

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Já não há paciência... Para os insatisfeitos crónicos, os gurus do optimismo, os "tudologistas". Não há paciência para saber o que todos pensam sobre tudo a toda a hora (Olá redes sociais). Já agora, nem para o "provincianismo" (mal) disfarçado de superioridade intelectual.

Detesto... Dogmas. Detesto convenções. Detesto mentiras. Detesto injustiças. Detesto ter que detestar coisas. Detesto cebola crua e pimento. Se bem que a
cebola e o pimento são mais fáceis de "engolir" ou de pôr para o lado.

A ideia... É a semente da criação, do conceito. A ideia é dar menos opiniões e agir mais. Sermos menos “treinadores de bancada”. A ideia é fazer, materializar no mundo real. Para transformar a realidade concreta, além da ideia é preciso um método. Ou não fosse eu designer.

Questiono-me se... Não passamos demasiado tempo no mundo digital. Em bolhas calculadas de interacção, a discutir "não assuntos", alimentando o algoritmo do ódio, a ver a vida (geralmente dos outros) a passar. Ou talvez isto seja só o cansaço “pandémico” a falar.

Adoro... Estudar fisionomias. Captar expressões e estados de ânimo através do desenho de retratos. Pessoas com sentido de humor e que não se levam a sério. Gente corajosa e assertiva que inspira. Desenhar e perder a noção do tempo, com uns headphones postos e um lápis de cor na mão.

Lembro-me tantas vezes... De ser pequena e distribuir catálogos nas exposições da minha mãe. Lembro-me também de ir, na infância, à Galeria Capitel a Leiria. Da emoção que era ver arte e conhecer os artistas. Dos concertos alternativos (e todo aquele ambiente) na adolescência, na Marinha Grande.

Desejo secretamente... conseguir concretizar mais obras, projectos com conceito e mensagem, onde consiga comunicar/chegar a quem vê. Viver plenamente e em cheio, cumprir todos os planos e objectivos com muito espaço de manobra para imprevistos e para mudar de ideias.

Tenho saudades... do Pinhal de Leiria. Dos almoços de Domingo em família em casa dos avós. De concertos. De me perder nas ruas de Madrid (pré-pandemia). Da oferta cultural da capital espanhola, e claro do desporto local que é “ir de cañas” de preferência sem planos nem pré-aviso, que é quando sabe melhor. Isso sim sempre com “tapa”.

O medo que tive... quando deixei o meu País. Tinha medo de perder amigos e a família. De perder momentos e memórias. Medo que foi abafado pela sede de aventura, descoberta e auto-superação. Medo que deu lugar a 14 anos de boas recordações e a sentir-me um bocadinho dos dois países.

Sinto vergonha alheia... Dos que nos separam entre "nós" e os "outros". Do discurso de ódio. E o retrocesso que representam para a nossa sociedade. Muita energia desperdiçada, que podia ser aplicada em coisas que de verdade interessam e importam.

O futuro... Espero que seja mais empático, de entre-ajuda e inclusivo. Estou entusiasmada com este presente/futuro de regresso às minhas origens na Marinha Grande. Quero dar o meu “grão de areia” pela vida cultural da minha cidade e da zona Centro. A província não tem que ser só paisagem nem só de passagem.

Se eu encontrar... a maneira de fazer a diferença, de inspirar, de dar exemplo. Encontrar a forma certa de ser um agente de mudança. Encontrar sempre a motivação necessária para conceber projectos, trabalhar nas minhas obras, desenhar. Encontrar sentido.

Prometo... habituar-me a um ritmo de vida mais calmo. Com mais qualidade de vida, cheio de momentos simples e prazenteiros. Com menos ócio de consumo rápido e mais espaço para o improviso. Ser mais fiel a mim e aos meus princípios e valores. Fazer pelo menos uma exposição ainda nesta década.

Tenho orgulho... sem tiranias do ego nem da soberba, no meu percurso até aqui. Tenho orgulho na minha família, nos meus amigos, no companheiro que me acompanha nesta viagem. Tenho orgulho neles e nos seus percursos. Foram eles que me ajudaram a chegar até aqui a este momento, porque ninguém é uma ilha.