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Nos "tops" na Rússia e Alemanha, mas desconhecidos em Portugal

16 out 2015 00:00

Eden Synthetic Corps, provavelmente, a mais internacional das bandas de Leiria

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Jacinto Silva Duro

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João Viana, o nosso interlocutor nesta entrevista é Hypecrash, um senhor de voz calma, racional e pausada, Marco Pina é Glamour Diesel, Ricardo Ramalhais é Chainheart e Daniel Ribeiro dá pelo cognome de IDK, juntos são os Eden Synthetic Corps (ESC), uma banda de electro-industrial que se farta de vender e dar concertos a uma legião de aficionados que se estendem da Alemanha à Rússia. Com o seu mais recente álbum, Sandwalkers, "os quatro cavaleiros" dos Milagres (Leiria) voltaram a repetir a gracinha de estarem nos cinco primeiros lugares do top alternativo alemão

Setembro foi o mês do lançamento de Sandwalkers, novo disco dos Eden Synthetic Corps (ESC), aquela que é apontada como a mais internacional das bandas de Leiria.
Sim, foi pela nossa editora de sempre a Scanner do grupo Dark Dimensions, que é também a dos [:SITD:], que esteve, este ano, no Entremuralhas, em Leiria. Por acaso, até estivemos no festival no castelo de Leiria, em 2013, como substitutos de última hora dos Suicide Commando. Este CD é o nosso quinto álbum de originais e demorou um pouco mais de tempo a compor. O primeiro álbum foi lançado em 2006.

Este trabalho e a banda adoptaram uma nova estética. O que foi que mudou nos ESC?
Para começar, mudámos o nosso logótipo. Foi desenhado por nós, em conjunto com a ATTO Creative Solutions, empresa de design de Fátima.

A imagem da banda em palco também se alterou, deixou de ser tão industrial e passou a ser mais “pós-apocalíptica”…
Sim. As próprias letras falam mais de cenários pós-apocalípticos, povos nómadas, povoações perdidas. O conceito foi escrito pelo Marco Pina e a composição foi minha [João Viana] e do Ricardo Ramalhais. Nos dois álbuns anteriores fui só eu a compor. A nível pessoal, porque fui pai, tenho menos tempo e tive de repartir mais as coisas. Penso que o resultado final é muito bom porque juntámos o melhor de cada um de nós. As minhas músicas são bastante diferentes das dele, mas penso que funcionam bem em conjunto.

Continuam a apostar muito em electrónica ou, desta vez, houve uma incursão numa estética diferente?
Continuamos voltados para a electrónica. Temos uma vertente mais industrial em algumas músicas, incluímos guitarras, como tínhamos feito no álbum anterior. Se calhar há aí algumas influências do nosso passado no metal. Acredito que é nas vocalizações que conseguimos perceber as principais diferenças estéticas. A voz do Marco deixou de ser tão “suja” - vou usar esta expressão -, para ser mais clara. Não deixa de ser um registo com ruído, mas que agora está mais perceptível e mais mais aceitável por um público menos habituado a este tipo de som. O objectivo do artwork do folheto do CD, não directamente, mas apresenta uma cidade, em plano de fundo, uma cidade destruída. O nome do trabalho é Sandwalkers, “caminhantes da areia” ou nómadas da areia, e podemos vê-los a caminhar, saindo da cidade destruída e embrenhando-se na areia do deserto.

É um cenário que prefigura uma distopia…
Sim. E um dos temas do disco tem esse nome. O artwork leva-nos numa viagem pela cidade destruída. Quando abrimos o folheto, entramos na cidade abandonada, destruída. Um cenário pós-apocalíptico.

Este CD é uma metáfora ou uma perspectiva do mundo?
Não. É mesmo só fruto da nossa imaginação.

Como se explica que os ESC tenham tanto sucesso na Europa de Leste, Alemanha e Rússia incluídas, e não haja ecos desse sucesso por cá?
Entrámos, ao fim de duas semanas de lançamento do Sandwalkers, para o quinto lugar do top alemão GEWC – German Electronic Web Chart e num dos sites de referência, o POPoNAUT, estamos em 10.º lugar do Top 50 Best Sellers. Entretanto, tivemos de rejeitar uma proposta para ir tocar a uma festa de Halloween a Moscovo, por questões pessoais e de agenda. Mas as coisas estão encaminhadas para, no fim deste ano, ou no início do próximo voltarmos para uma mini-tour, em São Petersburgo, Moscovo e talvez mais uma cidade. Em relação ao reconhecimento interno, temos de perceber que o meio da nossa música é bastante pequeno mas, estranhamente, quando acontece o Entremuralhas, aparece muita gente e esse é o meio em que nos enquadramos. Das 737 pessoas que vão por dia ao festival, uma boa parte tem a possibilidade de nos ver cá a tocar… A questão é que não há muitos concertos deste tipo cá. A 21 de Novembro, vamos ter a quinta edição da Toxic Chaotic, no Beat Club, em Leiria. Em 2007, na primeira edição, tínhamos de escolher as bandas nacionais que queríamos. Dava para escolher. Tocámos com Nuclear Down, Control Alt Deus, Imperfection… à medida que as edições vão passando, a dificuldade de escolher uma banda portuguesa que se enquadre uma noite destas vai aumentando. Desta vez, trazemos duas bandas de Espanha. As bandas nacionais estão a desaparecer. Na Toxic Chaotic, vamos apresentar o Sandwalkers e vamos ter os Larva e os Terror Error.

Nos próximos tempos, os ESC vão focar-se nas apresentações fora de fronteiras?
Sim. Vamos ter a Rússia e tentar ajustar a nossa vida pessoal e profissional para irmos actuar. Não damos mais concertos lá fora por uma questão de prioridades. Ou seja, as nossa prioridades são as nossas vidas pessoais e profissionais. A música, que fazemos há anos e anos e que nos dá tanto gozo, não é, infelizmente, o que nos vai sustentar. Temos de preservar os empregos e dar continuidade ao que fizemos artisticamente. Temos várias dificuldades com a música: vivemos no cantinho da Europa, somos quatro e são sempre quatro bilhetes e alojamento que têm de ser pagos. Há bandas que, embora tenham vários membros, ajustam o seu lineup de acordo com as propostas que lhes fazem. Vão menos elementos se a proposta for inferior. Nós nunca abdicámos de ir todos. Ainda agora recusámos um concerto porque só podíamos ir três.