Sociedade

Ninjas&Princesas: Do baptismo

13 jan 2017 00:00

Não baptizei os meus filhos nem quero baptizar. Assim como não lhes furei as orelhas, nem vou furar.

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Para mim é a mesma situação: uma decisão minha (nossa, minha e do pai), que afecta a vida deles de forma definitiva e que pode ser uma decisão deles, mais tarde, quando tiverem maturidade suficiente para entender o que estão a fazer e as implicações que isso terá na sua vida.

“Ah, mas não é a mesma coisa!”, dirão vocês, estimados leitores, que foram possivelmente todos baptizados, como eu, sem ninguém lhes perguntar nada. Para mim é. Para grande desgosto dos meus pais, claro.

Nem sei se eles sabem, mas vão ficar a saber agora, que não me lembro nada de ter sido baptizada (tinha um ano) e que durante muito tempo, na escola, dizia a quem me quisesse ouvir que não era, como se alguém se importasse muito com isso.

Mas eu importava-me. Não me identifico com a instituição Igreja, com os seus procedimentos, rituais e crenças. Tenho a minha crença pessoal, que me basta para viver.

Não acho que tenha de ir à missa aos fins-de-semana, comungar ou confessar os meus pecados para ser uma pessoa melhor. Nem acho que as pessoas que o fazem sejam pessoas melhores, algumas tenho até a certeza que não o são.

Assim, também não quero educar os meus filhos nesta religião institucionalizada e oca em que vivemos. Sei lá eu se eles querem ser católicos, budístas, monoteístas ou panteístas, ortodoxos ou coisa que valha.

Eles podem escolher, quando souberem o que isso é, se quiserem. Mas isso não impede que tenham padrinhos. Os padrinhos são, à falta dos pais, os primeiros responsáveis pelas crianças.

Escolhemos para os nossos filhos um padrinho e uma madrinha que achámos que podiam ser uns pais bacanos, na hipótese remota de termos de ser substituídos. Nuns acertámos, noutros nem por isso.

Mas o facto de haver um baptismo oficial não muda nada. Por exemplo, os meus padrinhos, que foram lá assinar e pegar na vela, estão armados em hippies reformados a fazer trabalho humanitário em parte incerta (Colômbia, ou Argentina, acho eu…) e perdemos o contacto completamente.

Se eu precisasse de uns pais de substituição não saberia sequer como os contactar. Felizmente, não preciso. Isto acontece porque escolhemos pelas nossas amizades (os meus pais também) e às vezes os nossos amigos não foram talhados para serem padrinhos.

O que importa não é comprar uma toalha de renda e uma vela para acender numa cerimónia com pompa e circunstância numa igreja onde, muitas vezes, é uma complicação poder ser padrinho (porque não se é casado pela Igreja, ou porque se é mas já se está divorciado, mais uma centena de objecções que nos põem).

O que importa é ser presente e dedicar algum tempo a ensinar a essa criança outros pontos de vista, outras experiências que os pais não estão por algum motivo a proporcionar, enriquecer a vida destes miúdos, que alguém decidiu que podemos ter a honra de ajudar a criar.

Por Rita Gomes

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