Entrevista

Maria José Vicente: “Temos de acabar com a culpabilização das pessoas que estão em situação de pobreza”

30 out 2025 08:00

A coordenadora da Rede Europeia Anti- Pobreza (EAPN) Portugal considera “inaceitável” haver mais de dois milhões de portugueses em risco de pobreza e alerta para o facto de 9,2% dos trabalhadores serem pobres

Maria Anabela Silva

Coordena a Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) Portugal desde 2022, mas já está na organização há mais de 20 anos. O que mudou no fenómeno da pobreza nestas duas décadas?
A pobreza é multi-dimensional. Não é só a dimensão monetária. Há uns anos não se falava da pobreza habitacional nem da pobreza energética. São dimensões que surgiram mais recentemente. Outra questão que, nos últimos anos, temos vindo a trabalhar mais é a saúde mental. Já deu para perceber que existe uma relação bidireccional entre pobreza e saúde mental. Quem está a trabalhar no combate à pobreza tem de acompanhar esta evolução e as alterações que vão surgindo. Começou-se apenas pela perspectiva mais monetária, incidindo apenas nos rendimentos disponíveis. Mas a pobreza foi ganhando esta complexidade e esta multi-dimensionalidade que importa ter presente. Quando estamos a combater a pobreza e a exclusão social, temos de olhar para as pessoas no seu contexto e tendo por base as várias dimensões, sob pena de a nossa intervenção não ter o devido sucesso.

Os dados mais recentes indicam que 19,7% da população portuguesa está em risco de pobreza e de exclusão. É uma redução de 0,4% face a 2024, mas estamos a falar de mais de 2,1 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade. Como olha para estes números?
São números cruéis, números inaceitáveis numa sociedade democrática. Qualquer que seja o valor - basta uma pessoa em situação de pobreza e a exclusão social - é a nossa democracia que fica também mais enfraquecida. Não podemos, de todo, tolerar e ficar indiferentes aos mais de 2 milhões de portugueses que vivem nessa situação, pessoas que não conseguem aceder a um conjunto de direitos sociais e humanos para ter uma vida digna.

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