Opinião

Não havia necessidade…

10 jan 2019 00:00

Marcelo Rebelo de Sousa, como que com o dom da omnipresença, conseguiu estar em todo o lado e a todos reconfortar, contribuindo para apaziguar os ânimos e evitar uma eventual revolta das populações.

É indiscutível que o cunho humanista e afectuoso que tem caracterizado o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República, em oposição à frieza e distância de Cavaco Silva, tem sido determinante para a relativa tranquilidade com que o País tem enfrentado as adversidades dos últimos anos.

Foi assim ao longo do período de profunda crise económica, que teve todas as condições para uma revolta social, como nos episódios trágicos que colocaram a nu as fragilidades do nosso País e em que o papel do Estado enquanto guardião da segurança da sua população ficou claramente posto em causa.

Marcelo Rebelo de Sousa, como que com o dom da omnipresença, conseguiu estar em todo o lado e a todos reconfortar, contribuindo para apaziguar os ânimos e evitar uma eventual revolta das populações.

É com um sentimento de desilusão, portanto, que se assiste ao seu envolvimento na novela de revista cor- -de-rosa que tem como actores principais Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, principalmente se tivermos em consideração que uns dias antes, na mensagem de Ano Novo, pediu mais credibilidade às instituições políticas.

Com todo o respeito pelas pessoas em causa, não parece ser muito credibilizador da instituição Presidência da República ir enfiar-se no meio de uma ‘zanga de comadres’, que tem por trás uma guerra de audiências entre programas de qualidade mais do que duvidosa.

Além do mais, com a entrada em directo no novo programa de Cristina Ferreira, Marcelo Rebelo de Sousa abre um precedente que dá toda a legitimidade a todos os jornalistas/órgãos de comunicação social que venham a estrear programas de esperar o mesmo tratamento.

Recorrendo a uma das expressões que ‘devemos’ a Herman José, “Não havia necessidade”...

É óbvio que de uma autarquia, seja dos seus técnicos seja dos políticos que a lideram, se espera que respeitem a Lei e que façam cumprir o definido nos diferentes regulamentos.

No entanto, espera-se igualmente que contribuam para a resolução dos problemas dos seus munícipes, empresas e instituições, e que fomentem o desenvolvimento, seja económico, social, educativo ou cultural.

Como todos sabemos, nem sempre esses dois desígnios são, no imediato, compatíveis, sendo o mais fácil e confortável invocar a Lei quando os problemas se colocam, decisão que, não raras vezes, inviabiliza projectos de importância relevante, onde cabe, certamente, um investimento de 30 milhões de euros criador de 100 postos de trabalho.

Não se percebe, portanto, como é que uma autarquia como a Marinha Grande, onde a indústria é determinante para a qualidade de vida invejável que apresenta, não se envolve de alma e coração para ajudar os seus empresários a ultrapassar as dificuldades colocadas por esta ou aquela alínea de determinado regulamento, muitas vezes completamente ultrapassados pelo tempo.

Na voz dos empresários ouvidos, a responsabilidade é repartida entre a má vontade dos técnicos da câmara e a falta de força dos políticos, algo que dá que pensar atendendo a que uns e outros estão, em teoria, ao serviço dos munícipes. 

*director