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Fátima fez Tabula Rasa do Jornalismo e Literatura

5 dez 2019 00:00

Lusofonia | Na cidade debateu-se liberdade de imprensa e futuro do português nos media

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Fernando Dacosta, à esquerda, agradece o Prémio Vida e Obra
DR
Jacinto Silva Duro

O Jornalismo e a Literatura podem ou devem tocar-se? A pergunta foi lançada no primeiro dia do III Festival Literário de Fátima - Tabula Rasa, que decorreu na cidade entre os dias 28 e 30 de Novembro sob este tema. Para lhe responder, foram convidados os escritores Rita Ferro e Luís Osório, também ele um antigo jornalista.

“Costumo dizer que os dois dias mais felizes da minha vida foram aquele em que entrei numa redacção e quando saí”, brincou Osório, dando início a uma sessão onde Rita Ferro criticou o modo como hoje se faz jornalismo. “Falta-lhe compaixão e fico irritada porque só me contam metade da história.

Afirmam que esta pessoa é um monstro, mas não me dizem porquê. Por que razão essa pessoa foi levada a cometer este ou aquele acto?” Já quem faz da escrita literária o seu ofício, revela tudo o que há para saber das suas personagens, para enquadrar as suas razões, entende a escritora. “Hoje, nas notícias, o que interessa, é a forma como a desonra pública está a ser explorada”, afirmou.



Para Luís Osório, a existência do jornalismo depende do seu público. “E não há público em Portugal que garanta a independência e a liberdade para um jornalismo verdadeiramente de referência. Nos jornais, precisamos que alguém pague as contas. E não são o público, nem as vendas que o fazem. São os accionistas e ninguém sabe que interesses estes têm.”

Presente na sessão, o jornalista, ensaísta, escritor e dramaturgo Fernando Dacosta, vencedor do Prémio Vida e Obra Tabula Rasa, pediu a palavra para afirmar que “a crónica é o pilar do jornalismo e não a notícia” e que, por isso, na sua óptica, não há diferenças com a literatura.

Entristece-o, contudo, a ele que, como referiu Miguel Real, “começou na profissão em 1966, passou por quase todos os mais importantes jornais e revistas nacionais desde o 25 de Abril”, o rumo que os media nacionais tomaram: “a censura não acabou no 25 de Abril, foi privatizada. Fui mais censurado depois do que antes!”

Gravação do Governo Sombra, no Centro Pastoral Paulo VI

 

O jornalista, que, na sua escrita, cruza três estilos – o realismo objectivo; a sensibilidade e a memória cultural dos séculos XX e XXI - haveria de voltar a falar da diferença entre Literatura e Jornalismo, afirmou que rejeita o discurso daqueles que dizem que há uma escrita de primeira, a literária, destinada aos livros, e uma de segunda, a jornalística.

“O que determina a escrita é o conteúdo daquilo que se escreve e não o meio onde se escreve”, resumiu.

“Se fosse autarca, investiria o dobro ou o triplo nos jornais regionais”

“Em Portugal, vive-se na falácia de que existe jornalismo regional, quando o que há é jornalismo de tribos, marcado pelas relações afectivas”, lançou Paulo Agostinho, editor na Agência Lusa e antigo jornalista do JORNAL DE LEIRIA e de vários outros títulos regionais, durante o painel dedicado ao debate sobre o jornalismo local e regional.

Na mesa redonda, participaram ainda Patrícia Fonseca (Médio Tejo), António Gonçalves (TVI), Pedro Jerónimo (Universidade da Beira Interior) e Jorge Martins (Notícias de Ourém).

O editor da Lusofonia e África na Lusa apontou o dedo aos meios de comunicação regionais que “não pensam nas identidades e idiossincrasias dos locais onde estão”, ou sequer ligam à sua diáspora.

Agostinho disse ainda não estar optimista com o rumo da imprensa regional. “Se eu fosse autarca, investiria, desinteressadamente, o dobro ou o triplo nos jornais regionais, porque eles são fundamentais para a identidade regional. Se estes regionais acabam, acaba-se a identidade.”

O jornalista disse ainda que não vale a pena pensar que os meios nacionais vão pegar no trabalho dos regionais, caso estes desapareçam. “O regional, aos ‘meios de comunicação nacional’, serve para fazer ‘planos de corte’ na televisão. Quando um político sai de Lisboa, as perguntas que lhe fazem não são sobre o local onde está, são sobre matérias nacionais.”

Prémios Tabula Rasa

- Categoria Infanto-Juvenil: A Propósito de Coisas que Acontecem, de Inês Barata Raposo

- Categoria Poesia: Poemas Escolhidos – 99 Poemas de Albano Martins, prémio póstumo a Albano Martins, recebido por Conceição Martins 

- Categoria Ficção: Tríptico da Salvação, de Mário Cláudio, recebido por Moutinho Borges

- Categoria de Filosofia: Leonardo Coimbra; Vida e Obra, de Manuel Cândido Pimentel 

- Grande Prémio Vida e Obra: Fernando Dacosta



Pedro Jerónimo fez eco de algumas preocupações reveladas pelos seus colegas na mesa, explicando que não só, desde o ini
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