Sociedade

Faleceu esta madrugada o proprietário da Villa Portela, Roberto Charters d'Azevedo

15 nov 2015 00:00

O proprietário da Villa Portela nasceu em Lisboa, em 1915, filho de uma das mais conhecidas famílias de Leiria, cuja casa ancestral, a Villa Portela, ocupa um dos lugares mais nobres da cidade do Lis. Frequentou o Liceu Camões e, mais tarde, o Instituto

Jacinto Silva Duro

Roberto Manuel Charters d’Azevedo, proprietário da Villa Portela, de Leiria, faleceu hoje, pelas 7 horas. A 17 de Abril deste ano, tinha completado um século de vida.

O corpo segue hoje para câmara ardente na igreja de São João de Deus, na Praça de Londres, em Lisboa, local onde, amanhã, dia 16 de Novembro, às 16 horas, decorrerá a missa de corpo presente. Às 17 horas, o cortejo funerário dirigir-se-á ao Cemitério do Alto de São João, onde os restos mortais de Roberto Manuel Charters d’Azevedo serão cremados.

O proprietário da Villa Portela nasceu em Lisboa, em 1915, filho de uma das mais conhecidas famílias de Leiria, cuja casa ancestral, a Villa Portela, ocupa um dos lugares mais nobres da cidade do Lis. Frequentou o Liceu Camões e, mais tarde, o Instituto Superior Técnico, onde se formou em Engenharia Civil. A 1 de Fevereiro de 1941, casou, em Leiria, com Maria Eduardo da Costa Pereira Monteiro, filha de Eduardo de Azevedo Monteiro, proprietário da Quinta de Santo António de Alcogulhe. O engenheiro trabalhou no projecto do Estádio Nacional e na Comissão das Construções Hospitalares (1948-1951) e no Serviço de Obras do Metropolitano de Lisboa, no troço do Marquês de Pombal aos Restauradores, que foi inaugurado em Janeiro de 1963. Foi secretário-geral do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, até 1956, e director de Serviços e inspector-geral na Fundação Calouste Gulbenkian, a partir de 1957. Era Oficial da Ordem de Mérito Industrial e fundou ainda a empresa PCL - Projectos e Construções, Lda.

Pioneiro da transmissão televisiva
Homem de vida cheia e vistas que abarcavam o horizonte, com o indicativo de radioamador CT1NB registado em 1933, a que se juntou o indicativo CT1NB-M para a sua estação móvel, Charters d'Azevedo foi um dos pioneiros da televisão em Portugal, sendo o autor das primeiras emissões de televisão, na Península Ibérica. Aconteceu em 1954, quando ainda faltavam três anos para a RTP começar o serviço regular de emissões de televisão. As transmissões fizeram-se entre o Alto da Serafina, no Parque de Mon- santo, Lisboa, e a casa do amigo, Levy de Carvalho, radio-amador como ele, na Estrada da Luz, a poucos quilómetros de distância. Roberto Charters d'Azevedo começou por transmitir imagens fixas, como se fossem diapositivos, através do processo de slow-scan, utilizando aparelhagem construída por si. Foi assim que ganhou o cognome de "senhor da Televisão".

Desenhou um estádio para Leiria e propôs uma casa da cultura
Engenheiro civil de formação, apaixonou-se pelas artes da electrónica, seguindo a inspiração do avô... Roberto, como ele, e que havia mandado construir a belíssima Villa Portela, em Leiria. “Ele era igualmente engenheiro, mas tinha a paixão pela fotografia. Eu tinha a paixão pela acústica e alta fidelidade”, explicou ao JORNAL DE LEIRIA, em Junho deste ano.

O ouvido e a capacidade técnicas de Charters d'Azevedo eram tais que chegou a fazer a correcção acústica do Coliseu dos Recreios onde se desenrolavam os Festivais de Música, ao serviço da Gulbenkian. “Uma abóbada como a do Coliseu e uma sala redonda prestavam-se a várias reverberações do som. Da acústica e alta fidelidade passei para as comunicações radio. Depois para as de imagem...”, contou.

Em 1949, desenhou um projecto para o estádio de Leiria e quis mesmo dar uma parcela da Villa Portela para que nela fosse construído um centro de artes, mas a autarquia não abraçou a ideia e nada se fez.