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Exposições: Uma esplêndida lição

14 jun 2025 10:01

Museu José Malhoa, Caldas da Rainha

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A pintora originária de Tomar perseguiu as fórmulas do Naturalismo, prevalecentes no país do seu tempo
MJM

Até 27 de Setembro de 2025
Pintura do século XX;
Artista: Maria de Lourdes de Mello e Castro;
Curadoria: Sofia Bandeira Duarte;
Museu José Malhoa, Caldas da Rainha;
Terça a domingo (10h-12h30 e 14h-18h)

Texto de
Sofia Bandeira Duarte

Maria de Lourdes de Mello e Castro (1903-1996) integrou o número de mulheres que encaravam a educação artística com o objectivo de serem pintoras profissionais, profundamente comprometidas com a sua vocação. Foi uma das últimas discípulas de José Malhoa (1855-1933), tendo participado em inúmeras exposições e estabelecido contacto com o mundo artístico mais profissionalizado, como aconteceu com várias das alunas do pintor.

Fortemente influenciada pelos ensinamentos recebidos, a pintura de Maria de Lourdes de Mello e Castro perseguiu as fórmulas do Naturalismo, prevalecentes no país do seu tempo. Todavia, a sua determinação pessoal e a sua notável capacidade de trabalho, permitiram-lhe encontrar um lugar muito próprio no contexto português, dificilmente acessível a alguém que apresentava duas enormes desvantagens, na época: a sua condição de mulher e o facto de ser oriunda de um meio periférico – a cidade de Tomar.

A qualidade técnica da sua obra e a especificidade dos temas que escolheu tratar, cedo foram notadas, acabando por ditar a sua autonomização, não só face ao seu Mestre, mas também, em relação aos pintores seus contemporâneos. Deu forma a uma vastíssima produção que perpassa os diversos géneros pictóricos, como o retrato, o género, a natureza-morta ou a paisagem, não esquecendo também o desenho. O reconhecimento do valor do seu legado é a mais justa homenagem que lhe pode ser feita e, por esse motivo, consubstancia o propósito principal desta exposição – dar a conhecer uma Artista singular que atravessou todo o século XX, enfatizando, simultaneamente, os momentos da aprendizagem e da maturidade artísticas. Não obstante, esta ocasião pretende ainda relembrar os condicionalismos que marcaram o ensino e a prática profissional das mulheres artistas na primeira metade de novecentos.

Incidindo sobre um período cronológico que a historiografia da arte tem vindo a preferir consignar, em termos valorativos, ao fenómeno das vanguardas artísticas modernistas, faz todo o sentido trazer uma exposição como esta a um museu cuja matriz identitária é a do Naturalismo. Mais de três décadas passadas sobre a retrospectiva que lhe foi dedicada neste mesmo lugar, Maria de Lourdes de Mello e Castro volta ao Museu José Malhoa para nos deixar “Uma esplêndida lição”.