Viver

Exportação de música não pode ser “um amor de Verão”

23 nov 2018 00:00

Mercado | A Why Portugal Music Conference juntou no Teatro Miguel Franco, em Leiria, alguns dos principais promotores, editores e músicos, durante dois dias, para falarem da música como produto de valor acrescentado

Fotografia: Ricardo Graça
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Jacinto Silva Duro

Em 2017 e 2018, por cada euro que a Why Portugal?, plataforma de promoção e divulgação internacional da música produzida no nosso País, artistas, agentes, representantes e empresas investiram na internacionalização, o retorno foi em média de dez euros.

Os números que demonstram que o investimento em cultura e, em especial, na exportação da música nacional, é um bom negócio foram apresentados à ministra da Cultura, Graça Fonseca, na sexta-feira, durante a Why Portugal Music Conference, que juntou no Teatro Miguel Franco, em Leiria, alguns dos principais promotores, editores, músicos e agentes nacionais, durante dois dias.

“Pensar a exportação portuguesa não pode ser ‘um amor de Verão’. Hugo Ferreira, presidente da Why Portugal?, lançou mão do slogan do Festival Bons Sons, de Tomar, para lembrar que a conferência da semana passada foi um “ponto decisivo”. "Recebemos em Leiria os maiores e melhores profissionais e agências nacionais de promoção de eventos e edição ligados à música em Portugal."

Os números apresentados pela Why Portugal? contém o potencial de agradar a quem analisa a música e o sector criativo em termos de rentabilidade e número de espectadores e devem-se aos esforço para levar os músicos nacionais a eventos europeus que dão a conhecer ao mercado internacional projectos musicais emergentes.

As portas começaram a abrir-se em 2017, quando Portugal foi country focus, no festival Eurosonic, o maior evento profissional da Europa do mundo da música. "O Eurosonic teve uma rentabilidade de um para 15. E se, em vez de 100 mil euros se tivesse investido um milhão?”, lançou Hugo Ferreira.

A Why Portugal? elegeu como objectivo fazer dois country focus por ano e, em 2017, apostou no mercado GSA (Alemanha, Suíça e Áustria), considerado importante e receptivo à música nacional. Foi assim que o Festival Waves Vienna recebeu, há dois meses, uma grande comitiva nacional.

“Ali, porque é um evento mais pequeno, teve um rendimento de um para dez. Mas a estes números falta ainda o resultado cumulativo, porque há ainda negociações realizadas em 2017, no Eurosonic, que estão agora a ter impacto", referiu à ministra, o presidente da Why Portugal?.

Embora os números pareçam inferiores, quando comparados com outros sectores da economia que vivem à custa da transformação de materiais importados, o grau de rentabilidade é muito superior.

"O que precisa o sector da música de importar para gerar este valor? Nada. As indústrias criativas têm uma rentabilidade muito superior a todos os outros sectores, além de ter ligações eficazes com o turismo e promoção do País no estrangeiro”, afirmou ainda.

A ministra da Cultura ouviu o recado e pegando nas palavras do responsável, Graça Fonseca reconheceu as mais-valias económicas que a internacionalização representa e a importância de criar uma política pública para a exportação da cultura nacional e da música, em especial.

“É importante abrir novos mercados e perceber que a cultura tem de ser atravessada por lógicas de posicionamento internacional”, disse, elogiando o trabalho da associação. "Não há muitos projectos em Portugal, na área da cultura, que consigam estes resultados num tão curto espaço de tempo”, afirmou e, sem se alongar nos apoios possíveis ao sector que acabava de elogiar, deixou um desejo no ar: “que continuem a crescer como até agora, Portugal agradece”.

"Não se pode transformar uma feira dos enchidos em festival”
A Why Portugal Music Conference juntou organizadores de festivais e produtoras para falar dos impactos culturais dos eventos musicais e de indústrias criativas, e a atracção que eles podem ter em termos de marketing territorial.

Os festivais Jardins Efémeros, de Viseu, o Bons Sons, de Tomar, A Porta, de Leiria foram os casos apresentados como casos de estudo de festivais para público diferenciado. "Não se pode transformar uma feira dos enchidos num festival e embora lá!. Os directores artísticos são essenciais para perceber as lógicas do público e porque falam o discurso dos artistas, além de terem uma relação privilegiada com produtores e outros parceiros", afirmou Luís Ferreira, director do Bons Sons, passando a palavra a Gui Garrido, programador d’A Porta, que afirmou a importância de estudar o cenário onde se quer implantar um evento.

"Há um centro histórico em Leiria, com uma rua direita, que foi nobre e essencial para o comércio e, com o aparecimento de uma série de shoppings, ficou abandonada. A Porta quis mostrar que era possível voltar a dar vida àqueles espaços.”

A promoção da massa crítica e da discussão à volta das manifestações artísticas representadas, levando à sua apropriação pela comunidade foi um dos pontos referidos por Sandra Oliveira. A responsável pelos Jardins Efémeros sublinhou que não se pode ficar “refém do sucesso de determinadas actividades” que as pessoas querem ver repetidas, mas, cujo desígnio, o projecto não comporta.

Para falar dos grandes festivais de música, Álvaro Covões, da promotora Everything is New, afirmou que Portugal consegue ter cartazes que discutem com os grandes festivais estrangeiros. Contudo, quando se fala de música nacional, os resultados não são positivos. “Mas noutros países europeus também não são melhores. Quantas bandas de outros países europeus conhecemos? Quantas espanholas? Quantas francesas?”

No seu entender, todos lutam contra a globalização e contra a transformação anglo-saxónica da música, cuja porta foi escancarada pelo pop-rock. "Os anglo-saxónicos é que o inventaram e eles é que o fazem bem! Já viram alguém a fazer fado como nós? É a mesma coisa."

"Quais os músicos portugueses que conheço?”
Cai Trefor, da revista online Gigwise, do Reino Unido, e Norman Fleischer, da Nothing But Hope  

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