Sociedade

Eu, superprotectora, me confesso

28 abr 2016 00:00

Tenho de admitir que sou uma mãe galinha, sou, pronto. Estou sempre a prever que eles vão ter frio, a pensar que vão cair, depois vão-se magoar, vão ter calor, vão ter fome ou vão ter um acidente qualquer.

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Não sou uma pessoa pessimista por natureza, mas com os meus filhos parece que estou sempre a antever catástrofes, que felizmente não têm acontecido e espero que não comecem agora a acontecer.

Só que essa história de eles serem de borracha e terem a mão de “Deus” por baixo (?!) foi coisa que nunca me convenceu. As crianças são frágeis, não me venham cá com estórias. Não apenas fisicamente, mas neste caso até é mais disso que estou a falar.

E as dores deles, não sei se já vos disse, a mim doem-me a dobrar. Eu sou aquela mãe que não consegue ver os filhos a levarem uma vacina sem começar a chorar, apesar de ser totalmente a favor das vacinas, mas isso dava um texto só por só, deixemos o assunto para outro dia.

Sou a mãe que pede cuidado quando eles vão a correr, embora consciente de que isso não será possível. Sou a mãe que compra o skate (capacete, joelheiras, protecções para as mãos, tudo e mais que houvesse…) e depois perde a coragem de lho dar. Sou a mãe que espalha factor 50 por baixo da camisola e depois não lhes tira a camisola na praia.

Sou a mãe chata, já perceberam, não é? Felizmente estas crianças têm um pai. Que neste aspecto é totalmente o oposto de mim. Um pai que acha que partir ossos faz parte do crescimento normal, que levar pontos é uma aprendizagem como outra qualquer e que partir um dentito ou outro não é um problema de maior, desde que de preferência ainda seja de leite.

Ele não quer ver os filhos a magoarem-se, longe de mim pensar isso, simplesmente é mais descontraído e deixa que eles arrisquem mais para irem mais longe. E eu no fundo da minha neurose de mãe superprotectora mas consciente, sei que ele também tem razão, também está certo.

É o pai “tá-se bem”, o pai que vira os putos de pernas para o ar, que lhes pega só por uma perna, que os faz ficar com falta de ar de tanto se rirem com cócegas.

E é essa combinação, esse equilíbrio entre estas duas forças, que tem feito dos nossos filhos umas crianças excepcionalmente normais, extraordinariamente fixes e naturalmente saudáveis.

Pelo menos, até agora, nunca partiram nada e não vivem numa redoma de vidro. São felizes e nós também.

Rita Gomes