Sociedade

Doenças profissionais: do chão de fábrica aos gabinetes da administração

28 abr 2018 00:00

Estima-se que, a cada 15 segundos, morra um trabalhador por acidente ou doença relacionada com o trabalho. Há ainda a somar os milhões que sofrem de patologias associadas à sua actividade profissional, muitas das quais poderiam ser evitadas ou minoradas.

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Maria Anabela Silva

O problema é democrático. Vai do chão de fábrica ou da obra aos escritórios e gabinetes de administração, num sem fim doenças ou lesões, mais ou menos, específicas de cada profissão.

Umas mais graves do que outras, a verdade é que todas condicionam, de alguma forma, a vida e o desempenho do trabalhador, obrigando a despender tempo e dinheiro em consultas e tratamentos e, nas situações mais graves, forçando a mudança de actividade profissional ou mesmo à aposentação antecipada por incapacidade.

A Organização Internacional do Trabalho estima que, a cada 15 segundos, morra um trabalhador por acidentes ou doenças relacionadas com o trabalho. Mas, muitos problemas, poderiam ser minorados ou evitados se houvesses mais atenção às condições de trabalho e às regras de segurança.

Também aqui, as palavras- chave são prevenção e sensibilização, o foco do Dia Nacional de Prevenção e Segurança no Trabalho, que se assinada este sábado, dia 20, com comemorações na Marinha Grande.

"A saúde e o trabalho são dois tesouros importantes que a sociedade deve proteger. É muito pelo trabalho que nos realizamos. Temos uma motivação. Somos produtivos e sentimo- -nos úteis. Mas o trabalho deve ser saudável”, afirma o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina no Trabalho, Jorge Barroso Dias.

Embora Portugal não tenha ainda estatísticas “muito robustas” sobre as doenças dos seus trabalhadores, as patologias musculoesqueléticas, associadas a movimentos “repetitivos ou muito esforçados”, como as tendinites provocadas pela inflamação das articulações nos punhos, cotovelos ou ombros, são as mais frequentes no mundo do trabalho, refere aquele médico.

As lombalgias (dores na coluna),muitas vezes relacionadas com “más posturas e mau uso da coluna”, motivam também muitas queixas entre os trabalhadores e são, segundo um estudo recente da Sociedade de Patologia da Coluna Vertebral, uma das principais causas de ausência ao trabalho e um dos motivos que mais pessoas leva ao médico, representando mais de 50% das causas de incapacidade física nos adultos.

Especialista em Medicina no Trabalho, José Luís Brandão frisa que as posturas incorrectas podem estar relacionadas com a “inadequação” do equipamento, como cadeiras, secretárias ou iluminação, mas também dever- se ao trabalhador que, tendo o material indicado, o usa incorrectamente.

“Senta-se torto, coloca o rato muito próximo da beira da secretária e, passado algum tempo, ganha uma tendinite”, exemplifica aquele médico.

As tendinites, a par das lombalgias, são uma das queixas mais frequentes que a fisioterapeuta Ana Amado ouve no seu gabinete. A técnica frisa, contudo, que muitas dessas situaçõessituações poderiam ser evitadas com gestos “simples”, como apoiar os joelhos a 90 graus quando se está sentado, ter as costas e os cotovelos apoiados e não trabalhar com os ombros contraídos.

Depois, se se trabalha ao computador, o ecrã deve estar ao nível dos olhos. Para quem passa o dia a executar movimentos rotineiros e repetitivos, é aconselhável “fazer alongamentos dos membros superiores, para contrariar a posição em que se esteve durante todo o dia”, acrescenta a fisioterapeuta.

Em ambiente fabril, é “fundamental” usar os equipamentos de protecção, defende Jorge Barroso Dias, frisando que a surdez continua a ser uma das doenças profissionais mais diagnosticadas.

“Ainda temos muito ruído industrial e trabalhadores que não se protegem convenientemente, apesar do equipamento que têm à disposição. Devemos reforçar a ideia de cultura de segurança integrada”, afirma o presidente da SPMT.

José Luís Brandão não podia estar mais de acordo. Nesse sentido, sublinha o papel que os médicos do trabalho podem desempenhar, são só enfatizando as regras de segurança, mas também transmitindo “dicas” ao trabalhador para corrigir determinados comportamentos e, dessa forma, evitar les&o

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