Desporto

Daniela Stoffel Cardoso: “Quando vou para as provas parece que outra Daniela entra em acção”

28 mai 2016 00:00

Contrariando todas as probabilidades, a atleta de Pombal garantiu um lugar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Fomos conhecer os segredos do sucesso.

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Há cinco anos, disse ao JORNAL DE LEIRIA o seguinte: “Ao pé da Susana Feitor, da Ana Cabecinha, da Inês Henriques e da Vera Santos pode dizer-se que sou nada. É difícil, mas quero chegar, progressivamente, ao nível delas. Vou precisar de ter muita paciência.” Afinal, foi mais rápido do que pensava…

Sem dúvida. Quando fomos a Roma para o Campeonato do Mundo de Selecções em marcha atlética houve até um momento engraçado. Quando saímos da câmara de chamada para o local da prova, iam as quatro à minha frente. Pensei que há uns anos nem sequer imaginava estar ao pé delas. Antes via as competições na televisão e agora estava ali a fazer parte daquela equipa e, melhor ainda, com as quatro. Estou a viver um sonho. Sinto-me muito orgulhosa. Trabalhei muito, é verdade, mas nunca pensei que fosse assim tão rápido, apesar de já andar nisto há uns anos. Estou surpreendida comigo, mas sei que me sacrifiquei muito.

Acreditaria se há um ano lhe dissessem que ia aos Jogos Olímpicos?

Não. Sabia que podia acontecer, mas tinha sempre a ideia que primeiro estão as outras quatro. Só podiam ir três e eu era a quinta. Sabia que era muito difícil e pensava que teria de esperar por 2020. Aí sim, seria a minha oportunidade.

Em Portugal a marcha consegue um nível de resultados elevados, que se traduz, por exemplo, no facto de cinco mulheres terem conseguido mínimos. No entanto, pouco se fala dessa disciplina.

A marcha é um movimento um pouco estranho, que a maioria das pessoas não gosta e acha esquisito. Não é andar, não é correr, e como é monótono e demora muito tempo, as pessoas não ligam tanto. Não é uma disciplina que visualmente atraia, como atrai um salto com vara ou um salto em comprimento. Até eu consigo perceber que é difícil estar horas a observar uma coisa que parece que é sempre igual. Para quem não percebe menos atraente é.

De qualquer forma, a Daniela não teve problemas em abraçar esta opção.

Admito que no início senti um pouco de vergonha. Quando comecei a marchar, no Estádio Municipal de Leiria, mais ninguém o fazia. Nunca tinha visto ninguém a fazê-lo e só tinha assistido na televisão. Achei aquilo muito estranho e pensei: 'eu? a fazer aquilo?'. Como era a única, era alvo de risota. Para agravar, não conseguia fazer o gesto muito bem. Abanava muito para os lados.

Gozam consigo na rua?

Mandam alguns piropos. Em Pombal, quando treino, já toda a gente me conhece, mas se for para algum sítio onde nunca tenham visto noto que as pessoas se riem.

Olhando para a Daniela é difícil imaginar que essa capacidade de sofrimento.

Não acontece sempre, mas quando vou para as provas parece que é outra Daniela que vai competir, que é outra rapariga que entra em acção. Às vezes dói tudo. Sobretudo sinto-me pesada e parece que ganhei trinta quilos. Sentimos que o corpo não reage da mesma maneira, as pernas estão pesadas, gastamos muito mais energia e tudo é forçado. Tem de ser mesmo eu quero, eu consigo, eu posso e eu vou.

Diz que gosta de marchar de trás para a frente. Não lhe mete mete impressão deixá-las ir?

Nada! Até me dá prazer. É estranho, mas é verdade. Sinto que cresço e que vou ganhando força à medida que a prova vai decorrendo. Vejo as outras a quebrar e ganho motivação.

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