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Como o conde Atanásio Raczynski viu Leiria

17 ago 2016 00:00

Estórias da nossa História por Ricardo Charters d'Azevedo.

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O conde Atanásio Raczynski (1788 – 1874), diplomata polaco e historiador de arte (ou talvez um crítico de arte), foi nomeado embaixador, a 18 de dezembro de 1841, do rei da Prússia, Friedrich Wilhelm IV.

Apesar da falta de acomodações decentes, Atanásio Raczynski decidiu “aceitar os tormentos de viajar pelo país”, usando os diversos meios de transporte, tais como o comboio a vapor, o barco, a carruagem, a liteira, o cavalo e mesmo uma mula.

Para a sua visita a Leiria saiu de barco de Lisboa pelas 7 da manhã a 22 de agosto de 1843. Chegou no dia seguinte às Caldas da Rainha, onde passou o dia a visitar as termas. Esteve em Alcobaça, passou por Óbidos e Batalha e a 29 de agosto de 1843 chega a Leiria.

Atanásio Raczynski descreve a sua passagem por Leiria da seguinte forma: “O caminho para Leiria da Batalha […] de manhã cedo foi realizado num par de horas, pois as 3 léguas são bastante curtas. Cheguei às nove horas ao albergue, que eu achei suficientemente equipado com todas as coisas necessárias; havia três Marias para nos servir: a mais velha, Maria Antonieta, gorda, solteira, serviçal e bem-humorada; a segunda, Maria da Encarnação, fresca e bonita, as mãos na cintura, pronta para rir e manter pessoas à distância; a terceira, Maria de Nazaré, ainda menina tímida, pensativa, bastante bonita, e de carácter naturalmente alegre. Não tenho dúvidas de que o estalajadeiro, cidadão tranquilo e bem alimentado, vive muito confortavelmente de presunto e de azeite, servido por estas três mulheres representantes de passado, presente e futuro. Dizemos, a propósito destas três Marias, que este nome é muito comum agora em Portugal, é suscetível de ser multiplicado “ad infinitum” já que nenhuma razão impede a criação de uma Maria da Esperança, Maria da Carta, das garantias constitucionais, como já existem Maria das Dores, Maria do Ó (o Ó é a interjeição de exclamação oh !), e mil outros.”

“Leiria está situada da forma mais agradável e aberta. Do meu albergue, eu tinha uma visão completa do castelo, e da cidade que se desdobra, por debaixo, como uma fita, e de uma grande praça irregular, que a separa do albergue”.

A aguarela (ver outras de outros autores do século XIX, no meu artigo no número oito dos Cadernos de Estudos Leirienses) que ele fez sobre Leiria é descrita por ele de forma detalhada: “à esquerda podemos ver uma sombra cinzenta e escura da decrépita igreja do Espírito Santo, numa praça brilhante, larga e longa rodeada pelos edifícios da cidade. No centro vemos a forma dominante do castelo, debaixo as paredes brancas de um quartel militar e o palacete do bispo com um jardim. No lado direito, podemos encontrar a catedral gótica do séc. XVI, situada junto ao Lis”.

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Texto escrito de acordo com a nova ortografia