Sociedade

Com um taco e uma bola se faz florescer o legado britânico no Pinhal Interior

3 ago 2018 00:00

O campo de futebol de Pousaflores, em Ansião, estava sem utilização e um grupo de imigrantes no Pinhal Interior aproveitou as instalações para criar um clube de cricket.

Fotografias: David Allen
Foto: DR
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Uns são reformados, outros fartaram-se da vida nas grandes metrópoles e encontraram nas novas tecnologias um aliado que lhes permite trabalhar à distância. Todos eles praticam agora uma vida mais simples, sem luxos supérfluos, mas com maior qualidade de vida no coração ferido de Portugal.

Holandeses, britânicos, alemães ou australianos escolheram estabelecer-se em locais onde os portugueses não ficaram, muitos deles por falta de perspectiva de futuro. A paz, o sossego, o contacto com a natureza são o prato do dia. Não se pense, no entanto, que as raízes são cortadas.

Apesar de não haver tradução directa para saudade, a verdade é que o sentimento está lá, até da prática desportiva. Prova disso é a criação, em Outubro de 2015, de um clube por um grupo de 15 pessoas que queriam jogar cricket, uma modalidade com forte implantação no Reino Unido.

Foi assim que nasceu o Amigos Cricket Club, que foi disputando jogos em Alvaiázere, Chão de Couce e Ansião, até que, em Agosto de 2016, faz agora dois anos, encontrou finalmente um lar.

Com a ajuda de José João Dias e do Grupo Desportivo e Recreativo de Pousaflores, fez do estádio de futebol não utilizado de Pousaflores a sua casa. Foram pintadas paredes, a cozinha foi melhorada e foi criada uma área de jantar, lá está, porque o cricket é muito mais do que um desporto, é o pretexto perfeito para o convívio.

A partir daí, tudo mudou. “Ter uma casa fez uma grande diferença. O clube tem agora um lugar para treinar, jogar e desenvolver-se”, salienta Chris Redhead, presidente e capitão de equipa. Em Outubro de 2016, o llford Catholic Cricket Club foi o primeiro visitante oficial do Amigos Cricket Club.

No ano passado, sucederam-se visitas de emblemas do Reino Unido, de Espanha e da Alemanha, conquistando ainda a Iberian Invitational Cup frente a um grupo espanhol. No entanto, a cereja no topo do bolo foi a vitória sobre o Oporto Lawn Tennis & Cricket Club, uma equipa criada em 1855.

Também no que concerne ao turismo a existência do clube tem sido importante, assegura o responsável, estimando em 800, as pessoas que visitaram o concelho à boleia desta modalidade.

“Várias equipas internacionais têm chegado a Pousaflores para jogar cricket, mas não só. Desfrutam, também, de Portugal e, especialmente, do calor dos portugueses. Ficam em Ansião por três ou quatro noites e jogam dois ou três jogos num fim-de-semana alargado.”

Mas ali não há barreira entre estrangeiros e locais, pelo que a falta de oferta desportiva nestas zonas desertificadas fez com que o clube quisesse ter, também, um papel relevante para os nativos. Não será fácil os portugueses perceberem as regras deste jogo que utiliza um taco e uma bola, mas que nada tem que ver com o baseball que nos entra em casa pela televisão.

Ainda assim, os Amigos vão tentar importar uma das mais populares modalidades na Commonwealth. “Em 2017 realizámos duas academias de treino com mais de 60 crianças de Avelar e Ansião, algo que continuou em 2018. O nosso desejo é introduzir o cricket em escolas locais para que os miúdos possam ser formados e desfrutar do jogo”, sublinha Chris Redhead.

Ainda assim, tem a noção de que não será fácil esta adaptação num pais em que o futebol é rei e senhor. “Queremos desenvolver a modalidade na comunidade portuguesa, mas sabemos que levará tempo até as pessoas entenderem o jogo. É por isso que levar o cricket às escolas fará uma grande diferença e, com certeza, ajudará a criar os futuros Amigos.”

Entretanto, a aposta no desenvolvimento da modalidade vai crescendo e a autarquia deu uma ajuda com a melhoria nos holofotes do campo de Pousaflores, que permitirá mais e melhores horas de treino para crianças e adultos.

Esta pujança saída dos confins do Pinhal Interior deu ainda uma ajuda para que Portugal, pela primeira nos últimos anos, apresentasse uma selecção na qualificação para o Mundial, já que a federação internacional exige que exista uma actividade mínima, exp

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