Desporto

Casimiro Gomes: o rapaz que pôs a Batalha a correr e que um dia foi recordista nacional

29 jan 2016 00:00

Há 12 anos mudou-se para a Batalha e assustou-se com a inércia. Hoje, tem a vila em peso a participar nas actividades que organiza. A maioria não imagina o currículo que tem.

Fotografia: Ricardo Graça

Todas as quintas-feiras, à noite, pelas 20:30 horas, centenas de cidadãos da Batalha saem à rua para praticar actividade física. É um projecto que tem pouco mais de dois anos e que alterou radicalmente a inércia até então reinante na vila.

Discreto, Casimiro Gomes está sempre presente nas Corridas d'Aviz, uma espécie de Brisas do Lis Night Run que durante o Verão chega a juntar três centenas pessoas à volta do Mosteiro. Não dá nas vistas, não gosta de protagonismos, mas faz sempre tudo para que nada falhe, até porque ele é o principal mentor do projecto.

Curiosamente, Casimiro Gomes, Miro para os amigos, nem sequer é da Batalha: é dos Marrazes. Há 12 anos estava para casar e andava à procura de um lar. Descobriu algo para aquelas bandas que lhe agradou e acabou por ficar. Foi o início de um grande amor pela vila, mas primeiro teve de aprender a gostar.

Quando chegou, ficou com a sensação que nada existia e tinha de regressar a Leiria para poder treinar. De início estava “desertinho” para ir-se embora. “Assustei-me um bocadinho”, admite. Depois, foi “encaixando” e agora nem quer pensa em voltar à cidade. “Gosto mais da Batalha. É uma vila muito pacata, mas ao mesmo tempo muito envolvida.”

Inspirado pela febre que se vivia em Leiria, decidiu então avançar com as Corridas d'Aviz. Combinou com um colega e criou um evento no Facebook. “Da primeira vez apareceram quinze pessoas, depois vinte, trinta...” No Verão chegaram a atingir os trezentos convivas. “No Inverno há sempre menos, mas na semana passada, e estando a chover, ainda se juntaram oitenta pessoas.” Luxo dos luxos, agora até há uma professora que dá o aquecimento.

O trabalho que faz pela actividade física na vila é, ainda assim, muito mais extenso. Fundado há pouco mais de três anos, o Atlético Clube da Batalha tem como presidente… Casimiro Gomes. Organiza as Corridas d'Aviz, mas também a São Silvestre – a única que se corre no distrito e que na última edição teve mais de mil participantes –, o Crosse Nocturno e as Manhãs Desportivas. Implantou, também, os trilhos nocturnos, às segundas-feiras.

Isto já para não falar dos cerca de oitenta atletas federados, sobretudo benjamins, que dão as primeiras corridas com o novo emblema ao peito. “Também já tive dez anos e é muito bom poder contar com alguém que nos ensine”, enfatiza Casimiro Gomes, que começou a dedicar-se ao atletismo quando entrou na Escola Preparatória de Marrazes, que então se dedicava em força àquela modalidade. O professor era Carlos Carmino, actual director técnico regional e técnico nacional de marcha.

O que muitos não sabem é que este homem de 38 anos foi uma das maiores esperanças do atletismo nacional no início dos anos noventa do século passado. Foi múltiplas vezes campeão nacional e chegou a detentor dois recordes nacionais… de infantis.

No dia 5 de Maio de 1990, em Lisboa, estabeleceu a melhor marca portuguesa do escalão do salto em altura, com 1,63 metros, um recorde que viria a durar sete anos. Foi ainda recordista nacional do tetratlo, prova combinada que contemplava as provas de 60 metros, salto em comprimento, lançamento do peso e 1.000 metros.

“Quando era miúdo havia alturas em que nos intervalos da escola, em vez de brincar ao berlinde ou jogar futebol, montava o colchão e saltava. Os professores até diziam para ir brincar”, recorda Casimiro.  

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