Viver

Bairro a bairro, porta a porta, Leiria fala nas linhas que o Mapas cose

9 jul 2020 12:48

Os primeiros oito dias do projecto, que leva uma carrinha de cultura ao domicílio, deram gás ao diálogo sobre a cidade e revelaram afectos à boleia das artes

Campanha Inaugural, performance do colectivo Til
Campanha Inaugural, performance do colectivo Til
Idalécio Francisco
Campanha Inaugural, performance do colectivo Til
Campanha Inaugural, performance do colectivo Til
Idalécio Francisco
Carolina Cravo e Hugo Bastos à conversa no Bairro das Almoinhas
Carolina Cravo e Hugo Bastos à conversa no Bairro das Almoinhas
Idalécio Francisco
A ver um dos concertos do Mapas
A ver um dos concertos do Mapas
Idalécio Francisco
Intervenção de Mais Menos na Praça Rodrigues Lobo
Intervenção de Mais Menos na Praça Rodrigues Lobo
Idalécio Francisco
Intervenção de Mais Menos no Bairro Sá Carneiro
Intervenção de Mais Menos no Bairro Sá Carneiro
Intervenção de Mais Menos no Parque do Avião
Intervenção de Mais Menos no Parque do Avião
Idalécio Francisco
Concerto de Nuno Rancho e Inês Bernardo
Concerto de Nuno Rancho e Inês Bernardo
Idalécio Francisco
Concerto de Nuno Rancho e Inês Bernardo
Concerto de Nuno Rancho e Inês Bernardo
Idalécio Francisco
Concerto de Nuno Rancho e Inês Bernardo
Concerto de Nuno Rancho e Inês Bernardo
Idalécio Francisco
O baterista Pedro Marques a participar na Campanha Inaugural o colectivo Til
O baterista Pedro Marques a participar na Campanha Inaugural o colectivo Til
Idalécio Francisco
Concerto de Surma e Cabrita
Concerto de Surma e Cabrita
Idalécio Francisco
Concerto de Surma e Cabrita
Concerto de Surma e Cabrita
Idalécio Francisco
Concerto de Surma e Cabrita
Concerto de Surma e Cabrita
Idalécio Francisco
Surma ao volante da carrinha do Mapas
Surma ao volante da carrinha do Mapas
Idalécio Francisco

Na sexta-feira, 3 de Julho, a Campanha Inaugural do colectivo Til percorreu Leiria para expor os vazios da malha urbana, ou seja, os lugares sombra, que os olhos e a memória ignoram no dia a dia.

Da performance inserida no programa do Mapas – que vai de carrinha porta a porta – ficam sete pontos que iluminam “o lado mais esquecido, misterioso e solitário da cidade”, explica Gonçalo Lopes, um dos fundadores do grupo de designers e arquitectos.

(Percorra a fotogaleria acima com imagens dos primeiros dias do Mapas registadas por Idalécio Francisco)

O circuito deixado pelo colectivo Til começa no estacionamento do estádio municipal, com uma árvore plantada num buraco preexistente no deserto de alcatrão, continua com o jogo da macaca marcado no chão da rua ao lado do antigo Banco de Portugal, reúne duas cadeiras e uma mesa no interior da rotunda desnivelada junto ao Leroy Merlin, inclui um baloiço num parque infantil desactivado no largo da feira de Marrazes, prossegue com uma cesta a circular num sistema de roldanas debaixo do viaduto do IC2 perto do Porto Moniz, coloca uma escada para subir a uma manilha de betão no campus 2 do Politécnico de Leiria e termina num campo de futebol improvisado, num loteamento por concluir, na Cruz da Areia.

Momento da performance do colectivo Til captado por Idalécio Francisco

Cada intervenção tem um título – “Asfixia”, “Sanidade”, “Usurpação”, “Desaparecimento”, “Atropelamento”, “Clausura” e “Bancarrota” – que comenta um determinado intervalo numa realidade que, segundo o coletivo Til, “é feita de interrupções, fragmentos e restos que não vemos, pois estamos demasiado atarefados”.

São o produto de “colisões e conflitos” entre escalas diferentes e decisões sobre o território que geram “separação, isolamento e falta de comunicação”, acrescenta Gonçalo Lopes.

Na performance de sexta-feira, 15 minutos em cada etapa, com o silêncio como regra, só a bateria de Pedro Marques (First Breath After Coma), tocada ao vivo, conferiu som ao movimento. Objectivo: traduzir em ritmo as emoções de cada lugar.

O baterista Pedro Marques (First Breath Afer Coma) a participar na Campanha Inaugural (Foto de Idalécio Francisco)

Agora, eles esperam que aconteça o que acontece a todas as coisas no espaço público: “Que sejam roubadas, vandalizadas, cuidadas. Que as pessoas se relacionem com elas das formas mais diversas. O espaço público é isso”.

Programa até domingo

Até 12 de Julho, o Mapas (programa completo aqui) tem muito mais para oferecer. Hoje, pelas 18:30 horas, David Ramy (SAMP) e Antónia Barreto (ESECS Leiria) conversam no Jardim de Santo Agostinho sobre temas de educação, inclusão, comunidades e transformação pela arte e pela cultura, com moderação do JORNAL DE LEIRIA.

Amanhã, sexta-feira, a carrinha que é um centro cultural móvel leva os Lavoisier a tocar no Mercado de Santana (12:30 horas), Fonte Luminosa (18:00) e Rua Santa Casa da Misericórdia no Vale Sepal (21:30) – a dupla de Lisboa tem novo álbum, Viagem a um Reino Maravilhoso, que se inspira na obra de Miguel Torga.

No sábado, 11 de Julho, é a vez de Labaq (cantora e compositora brasileira radicada em Leiria) e Fado Bicha (duo de Lisboa que cruza os universos do fado e da comunidade queer) subirem ao palco sobre rodas para concertos no Bairro dos Capuchos (11 horas), Avenida Marquês de Pombal (18:00) e Terreiro (21:30), numa colaboração inédita.

O encerramento, no domingo, está entregue à SAMP, que se apresenta na Junta de Freguesia de Barreira (11:30 horas), na Praceta D. João I da Quinta do Alçada (15:30) e na Junta de Freguesia dos Pousos (18:30).

Diálogo com a cidade

Os primeiros oito dias de Mapas resumem-se numa palavra: diálogo. Com a cidade e entre artistas. Nuno Rancho e Inês Bernardo juntaram-se para criar um espectáculo de canções dirigido aos mais novos, Surma e o saxofonista Cabrita reuniram-se pela primeira vez.

Concerto de Nuno Rancho e Inês Bernardo (Foto de Idalécio Francisco)

Cartas para Leiria e para o Futuro, Rostografia e Pessoas-Mapas (ver texto abaixo sobre estes projectos) ajudaram a expressar narrativas sobre Leiria e sobre as pessoas que a habitam, tal como aconteceu durante a conversa entre Carolina Cravo (InPulsar) e Hugo Bastos Alves (SAMP) que decorreu no Bairro das Almoinhas

Veja o vídeo Pessoas-Mapas da Casota Collective com Maria Emília Crespo, nas Fontes

Momento importante, a passagem de ±MaisMenos±, o projecto de arte de intervenção e reflexão crítica alimentado por Miguel Januário, que gravou os moradores da cidade, em zonas como o Bairro Sá Carneiro, o centro histórico ou a Quinta do Alçada, a partir da pergunta “Se a minha rua falasse, o que diria?”

Vai haver um vídeo de quatro minutos, mas as respostas já foram projectadas, na noite de quinta-feira, no Parque do Avião e na Praça Rodrigues Lobo, entre outros destinos.

Intervenção de ±MAISMENOS± no Bairro Sá Carneiro (Foto de Idalécio Francisco)

Um exercício de “deriva” e “descoberta”, que acontece numa fase “de transformação” do projecto ±MaisMenos±: “O trabalho sai de mim e vai para o outro”, torna-se “ferramenta para as pessoas” se fazerem ouvir, explica Miguel Januário ao JORNAL DE LEIRIA.

E o comentário do artista do Porto sobre a estadia de dois dias em Leiria também pode servir de legenda ao arranque do Mapas: “Foi superfixe”.

Rostografia, Pessoas-Mapas e Cartas para Leiria e para o Futuro: três projectos em que se propagam as vozes da cidade
 
Longitude, latitude. No Mapas, as coordenadas correspondem a vidas no espaço-tempo. Um DJ, uma cozinheira, um activista do brincar. Bairro a bairro, rua a rua, porta a porta, Leiria torna-se texto, som e imagem em que se propagam as vozes da cidade. Beatriz, Gustavo, Maria Carlota, Rafael – entre dezenas de nomes, todos protagonistas. Que revelam ambições e trambolhões, mágoas e contentamentos, geografias e afectos. São eles que povoam três projectos de expressão artística, documental e literária em divulgação até 12 de Julho nas redes sociais Facebook e Instagram e no site m-a-p-a-s.com. Pessoas-Mapas é uma série de quatro vídeos da Casota Collective que apresentam habitantes de Leiria e o modo como vivem os bairros deles; Rostografia soma retratos em fotografia no itinerário de uma narrativa da comunidade; Cartas para Leiria e para o Futuro é uma corrente de troca epistolar entre 12 pessoas com ligação à cidade, que escrevem sobre memórias e sobre o que querem melhorar, o que acham importante conversar, o que é urgente repensar. Até hoje, 9 de Julho, estão publicadas nove cartas, também disponíveis no site do JORNAL DE LEIRIA, da autoria de Patrícia Martins (animadora cultural), Jorge Vaz Dias (DJ e gestor de bar), Hugo Ferreira (fundador da Omnichord Records), Maria Miguel Ferreira (técnica especialista do gabinete da Ministra da Cultura), Carlos Matos (presidente da associação cultural Fade In), Xana Vieira (proprietária da livraria Arquivo), Thainá Braz (programadora), Sara Marques da Cruz (investigadora em História) e Isabel Jácome (enfermeira). Estão ainda acessíveis, nos endereços ma- p-a-s.com e jornaldeleiria.pt, os vídeos da Casota Collective gravados com Francisco Lontro (no Bairro das Almoinhas), Maria Emília Crespo (nas Fontes) e o Sr. Crespo (Bairro dos Capuchos). E os 24 retratos da colecção Rostografia libertados até esta quinta-feira, que reúnem olhares recolhidos em lugares como as Cortes, o Bairro Sá Carneiro ou a Praça Rodrigues Lobo, com respostas à queima-roupa para duas questões: Do que tem mais saudades? Que mensagem gostaria de enviar para o futuro, dirigida a si? Rostografia, Pessoas-Mapas e Cartas para Leiria e para o Futuro prosseguem até 12 de Julho. Mas na construção da identidade de Leiria e de quem a habita, que o Mapas procura fixar, as perguntas e as respostas são um jogo sem fim. Algumas estão no centro de tudo: O que nos rodeia? Quem nos rodeia? O que nos une? Quem nos separa?