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Alcobaça, Batalha e Porto de Mós recordam Aljubarrota

13 ago 2018 00:00

Aniversário | Teatro, reconstituições históricas e uma exposição com as espadas e elmos de D. João I e D. João II e uma Festa da Luz marcam o 633.º aniversário de Aljubarrota

Jacinto Silva Duro

A Batalha de Aljubarrota opôs portugueses contra portugueses, irmãos contra irmãos. Em São Jorge, Porto de Mós, ao envolverem-se num conflito que prefigurava uma guerra civil portuguesa, uma guerra ibérica e a guerra europeia dos Cem Anos, portugueses, castelhanos, ingleses e franceses davam os primeiros passos para o lançamento da epopeia dos Descobrimentos e para o domínio da Europa no Mundo, nos séculos seguintes.

No dia 14 de Agosto, celebram-se 633 anos daquele conflito, que teve origem na crise dinástica iniciada de 1383, que levou o rei Juan I de Castela a reivindicar o trono de Portugal, contra a oposição da burguesia e de alguma nobreza portuguesas, que preferiam D. João, mestre de Avis, como rei.

Na actualidade, a celebração do combate acontece em três municípios. Embora ostente o nome de Batalha de Aljubarrota, o conflito aconteceu em São Jorge, naquele que é hoje território de Porto de Mós. Aljubarrota, a terra da lendária padeira que matava castelhanos a golpes de pá de forno, situa-se dentro dos limites do município de Alcobaça e, por fim, o mosteiro, jóia arquitectónica criada para celebrar a vitória de Portugal sobre Castela e Leão, situa-se junto ao rio Lena, na Batalha.

No dia 14, a partir das 10 horas, haverá uma missa campal, seguida de uma parada militar, com uma companhia, peças de artilharia e a Fanfarra do Exército, ao abrigo de um protocolo assinado entre a Fundação da Batalha de Aljubarrota e o Exército Português.

Nos últimos anos, porém, com a necessidade de as forças militares estarem em estado de prontidão, devido aos incêndios florestais, esta parte das comemorações não tem sido cumprida. "Esperemos que este ano a parada se efectue, uma vez que é uma maneira de dar uma maior dignidade às celebrações", observa o director do CIBA, João Mareco.

As celebrações irão contar com a presença do vice-chefe do Estado Maior do Exército. Nos discursos, não faltará uma alocução histórica, uma referência aos mortos e à identidade nacional que Aljubarrota permitiu forjar.

A partir das 12 horas, as celebrações rumam à Capela do Fundador, no Mosteiro da Batalha, onde haverá uma homenagem a D. João I, mestre de Avis. Nesse dia, o monumento nacional irá inaugurar uma exposição onde serão mostradas armas dos reis sepultados na Capela do Fundador.

Paralelamente, no Campo de São Jorge, haverá recriações históricas e rábulas, animadas pelo Roteiro do Tempo, grupo teatral da Benedita que se especializou em teatro de época. Ao mesmo tempo, a vila de Aljubarrota promove uma reconstituição histórica da batalha, com figurantes e actores a recriar os momentos altos daquele dia 14 de Agosto de há 633 anos.

“À tarde, no âmbito de uma parceria com a Câmara de Porto de Mós, na Praça da República, naquela vila, haverá a Festa da Luz, uma iniciativa diferente, que a autarquia quis oferecer. Este é um evento exploratório para uma iniciativa que gostaríamos de levar para o Castelo de Porto de Mós, quando terminarem as obras de reabilitação aquele monumento nacional", adianta João Mareco.

Para animar o público e terminar o dia de comemorações, haverá música com influências do século XIV e artes circenses.

CIBA reformulado
Ao abrigo de uma candidatura ao Programa Valorizar, do Turismo de Portugal, o CIBA investiu, no último ano, na alteração da sua museografia. Hoje, é um museu diferente. A parte multimédia e interactiva manteve-se, mas o circuito museológico foi alterado, de modo a reflectir a realidade portuguesa de quatrocentos.

Para auxiliar os visitantes estrangeiros há audioguias em inglês, francês, italiano, espanhol e alemão. "Quando CIBA foi criado, foi direccionado para a questão da Guerra dos 100 anos e do posicionamento desta batalha, no século XIV, perante uma Europa em conflito onde, de um lado, ingleses e os seus aliados, entre eles os portugueses, se opunham aos franceses e aos seus aliados, como os castelhanos", explica o director do espaço, adiantando que, com este CIBA 2.0, há agora uma introdução histórica contextualizada, que termina com o filme da batalha no auditório e com um vislumbre dos Descobrimentos, uma epopeia que só foi possível com a estabilização geopolítica na Península Ibérica, que a vitória em Aljubarrota permitiu.

A primeira sala aborda a Peste Negra, o Grande Cisma do Ocidente, a sociedade estratificada em clero, nobreza e povo, e o aparecimento da burguesia. "Agora, há uma maior visibilidade da história nacional. Fizemos um novo arranjo e distribuição da exposição, adicionando pormenores ou dando maior visibilidade a outros."

A Batalha dos Atoleiros, a Guerra dos Cem Anos, os protagonistas de Aljubarrota - os reis D. João I, Juan I e D. Nuno Álvares Pereira -, são apresentados ao público, antes de se passar para uma pormenorização do local: as ossadas encontradas, aquando das explorações arqueológicas no século XX, e as armas, que podem ser manuseadas pelo público.

O peso das espadas, os arcos, as maças, o longbow inglês, as bestas e os virotes são alguns dos itens que prendem a atenção de quem visita o CIBA.

"A besta, em paralelo com uma artilharia ligeira, a bordo das naus, permitiram, no século XV aos portugueses dominar o Oceano Índico", diz Mareco. No auditório, um filme de grande espectacularidade contextualiza os dias que antecederam a batalha e mostra a violência e as técnicas utilizadas por portugueses e castelhanos, naquele dia de Verão de 1385.

Prémio António Sommer Champalimaud
Os vencedores da terceira edição do Prémio António Sommer Champalimaud serão conhecidos na cerimónia da comemoração do 633.º aniversário de Aljubarrota, no dia 14 de Agosto.

A iniciativa que desafiou os alunos de estabelecimentos de ensino especial e de instituições de jovens em risco a recriar a juventude de D. Nuno Álvares Pereira, conta com trabalhos de ilustração, pintura, escultura, sombras chinesas, vídeo e até canções em rap, com música medieval a acompanhar.

Posteriormente, as obras ficarão expostas numa das salas do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, até 14 de Setembro.