Viver

Ventos de mudança

18 abr 2021 12:43

Depois de anos votados ao abandono, os moinhos da região estão a ganhar vida nova, fruto do investimento de entidades públicas e privadas. Incluídos em roteiros turísticos, transformados em espaços museológicos ou de alojamento, eis a nova vida destes bastiões da identidade local

ventos-de-mudanca
Moinho da Quinta de Rio Alcaide
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

De madeira, de pedra ou de lata, voltados para o mar ou rodeados de serra, os moinhos da região estão a conhecer uma nova etapa do seu percurso ancestral.

Votados ao abandono desde que a tecnologia venceu o processo artesanal de moagem de cereais, estes ícones da cultura tradicional voltaram nos últimos anos a captar o interesse de entidades públicas e privadas, que, de diferentes formas, lhes têm devolvido vida.

Quando se assinalou o Dia Nacional dos Moinhos (dia 7 de Abril), fomos conhecer bons exemplos de revitalização no nosso território. Há quem os insira em rotas turísticas, quem os use como equipamento museológico, quem os transforme em habitação própria, em charmosos alojamentos ou até num monumento religioso.

O museu vivo de Pousaflores

Em Ansião, o Município e as Juntas de Freguesia há muito reconheceram o valor dos seus moinhos de madeira, explica Cristina Bernardino, vereadora da Cultura. Além de terem sido recentemente reparados os moinhos dos lugares do Outeiro (Alvorge) e da Melriça (Santiago da Guarda), ainda em 1993, no âmbito do Programa Leader, a Junta de Pousaflores teve a iniciativa de construir de raiz uma réplica dos moinhos originais daquela freguesia.

Desde então, somam-se as visitas guiadas àquele espaço, dinamizadas pela Autarquia, bem como por associações locais e pela igreja, onde miúdos e graúdos têm workshops e aprendem com o moleiro como se pro- duzia farinha em tempos idos. E o feedback é de tal forma positivo que a Autarquia está a trabalhar na homologação da Rota do Vento e de um conjunto de percursos pedestres desenvolvidos em torno dos moinhos, adianta a vereadora.

No ano passado, o moinho de Pousaflores foi de resto usado como marca identitária de Ansião, que candidatou esta construção à campanha 7 Maravilhas da Cultura Popular. O Município argumentava então que este moinho giratório é um “artefacto complexo”, que se reveste de “grande significado histórico” e cuja recuperação não o descaracterizou.

“Esta candidatura constitui um reconhecimento da autenticidade desta herança tecnológica tradicional de grande importância histórica e valor mundial, assim como da perseverança de quem tem preservado este verdadeiro referencial identitário da população local, mantendo viva a memória colectiva”, frisava a Autarquia.

Restaurados e integrados em percursos pedestres

A promoção deste património, tanto do edificado como dos costumes, por iniciativa da Câmara de Ansião, é um bom exemplo a seguir, considera Rui Rua, investigador de Pombal, que desde 2015, através da sua dissertação de mestrado, tem defendido que os moinhos da Corujeira também podem ser um factor de dinamização turística do seu concelho e em particular da Freguesia de Abiúl.

E com o seu empenho, com o envolvimento da Junta e da Câmara de Pombal, o trabalho de recuperação e de promoção dos moinhos também já arrancou no lugar das Corujeiras. Aqui, explica Rui Rua, destacam-se instalações datadas do final do século XIX, construídas com recurso a chapa, por influência norte-americana, o que torna estes moinhos únicos do género na Europa.

Em marcha está já o projecto de recuperação, uma iniciativa da Junta, que conta com o apoio da Autarquia, sendo que o primeiro restauro está praticamente pronto, adianta Rui Rua. Além disso, o investigador tem vindo a trabalhar na criação de um percurso pedestre a desenvolver em torno deste edificado. E a sua expectativa, revela, é que a devida homologação chegue a tempo de inaugurar por o circuito ainda durante este Verão.

Convertido em alojamento

No concelho de Porto de Mós subsiste um ou outro moinho de pedra ainda dedicado à moagem. Muitos foram convertidos em habitações ou em pequenas unidades de alojamento. E talvez ainda existam alguns por converter, mas apenas porque estão a ser vendidos a preços muito elevados e porque nem sempre est

Este conteúdo é exclusivo para assinantes

Sabia que pode ser assinante do JORNAL DE LEIRIA por 5 cêntimos por dia?

Não perca a oportunidade de ter nas suas mãos e sem restrições o retrato diário do que se passa em Leiria. Junte-se a nós e dê o seu apoio ao jornalismo de referência do Jornal de Leiria. Torne-se nosso assinante.

Já é assinante? Inicie aqui
ASSINE JÁ