Abertura

Poluentes dos incêndios de 2017 mataram 17 pessoas no distrito de Leiria

24 jun 2021 10:02

Estudo da Universidade do Porto mostra que o distrito de Leiria é o segundo com mais mortes atribuídas ao efeito de partículas emitidas pelos fogos de Outubro de 2017. E o primeiro, em todo o País, onde a concentração de partículas atingiu valores mais elevados

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Destruição da floresta portuguesa em 2017, incluindo o Pinhal de Leiria, levou fumo até ao Norte da Europa
Ricardo Graça

Os alertas das autoridades de saúde sobre o risco de exposição a fumo de incêndios florestais suportam-se no consenso científico e avisam para o efeito das partículas suspensas, do monóxido de carbono e de outras substâncias, que podem provocar lesões do foro respiratório, cardiovascular e oftalmológico.

O desaparecimento de 86 por cento do Pinhal de Leiria, semeado originalmente para proteger os terrenos mais próximos da costa, constitui uma alteração nas condições que influenciam o estado do tempo, embora, quase quatro anos depois, continuem a faltar estudos para validar, ou contrariar, a experiência empírica, isto é, a sensação de que algo de novo se está a manifestar nos parâmetros de humidade, temperatura e acção do vento.

O que já se encontra demonstrado é que, logo em Outubro de 2017, a destruição pelo fogo de milhares de hectares de matas nacionais e florestas privadas nos concelhos de Alcobaça, Leiria, Marinha Grande e Pombal libertou poluentes na atmosfera que causaram impactos na população, pela deterioração da qualidade do ar – em alguns casos, causaram a morte.

Um estudo para analisar o transporte a longas distâncias de fumo e de materiais particulados provenientes dos incêndios de Outubro de 2017 concluiu que as PM10 – partículas inaláveis suspensas no ar, com diâmetro inferior a 10 micrómetros, que constituem um elemento poluidor da atmosfera e são libertadas durante os fogos rurais – tiveram um efeito significativo na mortalidade.

Publicado por nove investigadores em Novembro de 2020 na revista científica Environment International, e assinado em primeiro lugar por Sofia Augusto, da EPIUnit do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, o artigo considera que 100 mortes registadas em Portugal, em Outubro de 2017, são atribuíveis às PM10 e a valores mais elevados de concentração destas partículas, no contexto da vaga de incêndios e do furacão Ofélia, o que inclui 38 mortes relacionadas com complicações cardiorrespiratórias.

Segundo a investigação, o número de mortes em cada distrito resulta da combinação entre o tamanho da população e o grau de exposição. Leiria é o segundo distrito com mais mortes atribuídas ao efeito das partículas PM10 em Outubro de 2017: um total de 17 mortes, só atrás de Lisboa (26). Nestas, estão incluídas as mortes por complicações cardiorrespiratórias atribuídas ao efeito das partículas PM10 no quadro dos incêndios que atingiram o Pinhal do Rei e outras áreas florestais. Leiria e Lisboa estão igualmente no topo da lista: 10 em cada distrito.

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