Saúde

CH Leiria organiza Psiquiatria fora de portas

16 mai 2019 00:00

Encontro de Psiquiatria de Leiria decorre no Teatro-Cine de Pombal

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Com o mote Psiquiatria fora de portas, o Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental (SPSM) do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) lança este ano o desafio de “deslocalizar” o 9.º Encontro de Psiquiatria de Leiria para o Teatro-Cine de Pombal, e que decorre esta sexta-feira, dia 17.

A problemática do suicídio, a Lei de Saúde Mental e os internamentos compulsivos, assim como as diversas respostas do CHL jsão algumas das temáticas abordadas.

Cláudio Laureano, director do SPSM do CHL, explica que “o suicídio é uma das principais causas de morte em todo o mundo e continuam a ser muito preocupantes os números mais actuais”, a que Portugal “não foge à regra, com uma taxa que ronda os dez suicídios por 100 mil habitantes”.

“Um dado igualmente preocupante, pela faixa etária a que se refere, mostra que o suicídio mata hoje mais jovens do que o vírus VIH (OMS, 2015)”, acrescenta o psiquiatra.

Sem dados concretos sobre a região, Cláudio Laureano adianta que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, é “possível concluir que o fenómeno do suicídio em Portugal apresenta, em geral, uma preocupante tendência de aumento”.

“Em termos da análise realizada por município, verifica-se que existem áreas do território onde a taxa de suicídio é muito superior às restantes. E no período estudado (2010-2016) a Nazaré apresenta o dobro dos suicídios da Figueira da Foz ou de Aveiro.”

Segundo o psiquiatra, o suicídio é “muitas vezes interpretado como um acto egoísta”, o que é “bastante injusto e pouco coerente na compreensão, do que leva efectivamente um indivíduo a tomar esta decisão perante a vida”.

“Para decidir pôr fim à sua própria vida, tem necessariamente de estar num enorme sofrimento profundo. Seja provocado por factores externos e/ou psicológicos, como traumas, dificuldades sócio-económicas, problemas relacionais, depressão, doença bipolar, psicoses, transtornos de personalidade, demências ou os comportamentos aditivos.”

Este tema será discutido por Braz Saraiva, primeiro presidente da Sociedade de Suicidologia. O papel da enfermagem na intervenção comunitária é outro dos temas em discussão.

Cláudio Laureano destaca o papel destes profissionais: “numa época em que a vertente comunitária tem que ser verdadeiramente implementada o papel do enfermeiro é crucial também aqui. Será um dos profissionais privilegiados para assumir um papel chave na gestão dos cuidados dos nossos doentes na comunidade.”

Para Cláudio Laureano, o trabalho dos enfermeiros “potencia” uma melhoria junto dos doentes mentais, através “da construção de um programa individual de cuidados definido pela terapêutica de referência em conjunto com o doente, quer ao nível da prestação de cuidados de saúde, integração social e/ou ocupacional, desenvolvimento de outras intervenções definidas no plano, quer na articulação/facilitação com os recursos existentes na comunidade”.

Fernando Vieira, psiquiatra forense, irá falar sobre os 20 anos de Lei de saúde mental. “O que precisa de ser alterado? Seguramente alguns aspectos importantes relacionados com a articulação entre a esfera da saúde e da justiça, entre a saúde mental e a saúde pública, de forma a que todo o processo possa servir da melhor forma o seu último interesse: salvaguardar a saúde e os interesses e direitos do doente.”

Em antecipação ao encontro, realizam- se, hoje, dia 16, dois workshops dedicados aos temas Sexualidade (das 9 às 13 horas), e Avaliação do risco de suicídio e referenciação urgente (das 14 às 18 horas), no Hospital de Santo André, em Leiria.

2200
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2016) estima que ocorram no mundo um suicídio a cada 40 segundos, o que equivale a cerca de 2200 por dia e próximo de um milhão por ano, afirma Cláudio Laureano, salientando que a OMS estima que em 2020 este número possa subir para cerca de 1,5 milhões de mortes por ano