Sociedade

Bióloga de Leiria ajuda a proteger golfinhos do Sado

7 fev 2016 00:00

Ocean Alive ajuda a conhecer as pradarias marinhas do segundo maior estuário nacional

biologa-de-leiria-ajuda-a-proteger-golfinhos-do-sado-2987
Jacinto Silva Duro

A bióloga marinha Raquel Gaspar nasceu em Leiria e foi nessa cidade que descobriu o amor pelo mar. Hoje, é uma das caras da Associação Ocean Alive, sediada no estuário do rio Sado.

Esta é uma organização para a educação marinha, cuja missão é transformar comportamentos para a protecção do oceano, através da educação e envolvimento das comunidades locais costeiras.

A educação marinha é o alicerce do trabalho deste grupo que desenvolve um programa de actividades muito diversificado para famílias, turistas e escolas, a partir de vários eixos: um projecto com as mulheres pescadoras do Sado, um programa dirigido às escolas, um programa sobre lixo marinho e o projecto Noites de Estrelas e Pirilampos. A equipa é composta por astrónomos, pescadores, artistas plásticos e biólogos marinhos.

As Noites de Estrelas e Pirilampos têm por base a observação astronómica e observação de pirilampos, fazendo a sua transposição para o ambiente marinho. "Quando estamos na escuridão completa do mar profundo, que constitui 97% da sua totalidade, é como se estivéssemos a ver estrelas e pirilampos.

Ali, é o reino da bioluminescência”, explica a bióloga. Para mostrar como seria viver ali, Raquel Gaspar está a escrever um livro, com o ilustrador Nuno Farinha, que leva os mais novos a mergulhar num batiscafo, em zonas específicas do território marítimo português.

“Um desses locais longe da luz é o Canhão da Nazaré, outro são os campos hidrotermais dos Açores, onde vivem caranguejos e mexilhões gigantes e onde toda a base da vida acontece a partir de bactérias que usam o enxofre como energia química. Os restantes são o monte Gorringe, que se situa entre o sul de Portugal e a Madeira, os vulcões de lama ao largo do Algarve e uma planície a 5 mil metros de profundidade.

"Outra das vertentes desta iniciativa passa por revitalizar as colecções de museus, como o da Universidade de Coimbra, que tem exemplares recolhidos há dois séculos, pelos primeiros naturalistas portugueses, quando se acreditava que, nos sítios no mar onde a luz não penetrava, não podia haver vida, e levar escolas a conhecer as novas exposições. Uma dela seria a Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, de Leiria.

Para isso, foi feita uma candidatura à EEA Grants, mas, infelizmente, a iniciativa não foi aprovada. Mulheres pescadoras do Sado Outro projecto da Ocean Alive visa transformar comportamentos para a protecção do oceano, envolvendo comunidades costeiras, em Setúbal, caracterizadas pela existência de casais que embarcavam e pescavam.

Esta iniciativa recebeu o prémio Ariane, da Rothschild Fellowship 2015.“Na margem norte do rio, o aparecimento da indústria levou ao abandono da pesca, contudo, a falência das fábricas levou ao desemprego. Estas mulheres desempregadas têm uma sabedoria de vida no mar fantástica e nós quisemos criar uma alternativa económica à pesca, valorizando a sabedoria e património cultural das pescadoras, através de visitas guiadas no Mercado de Peixe de Setúbal e de passeios de barco no estuário do Sado”, explica Raquel Gaspar.

O seu público alvo são as famílias, os turistas e as escolas. Foi, aliás, para este público específico que a bióloga falou durante o Seminário Nacional Eco-Escolas 2016 que decorreu na Escola Superior de Tecnologia e Gestão, do Instituto Politécnico de Leiria, entre os dias 22 e 24 de Janeiro.

Raquel Gaspar apresentou os três grandes temas para as escolas: a biodiversidade marinha, a pegada no oceano e o papel regulador do mar no clima e na vida na Terra, salientando que a equipa ds Ocean Alive pode ir às escolas ou levar os alunos embarcados na rota dos Golfinhos.

"A 'princesa' do nosso programa de educação marinha é uma oficina denominada Oxigénio do Mar que eu Respiro, que alerta os participantes para o facto de ser o oceano, as algas e as microalgas quem nos dá a maior parte do do oxigénio que respiramos. As pessoas acham que são as árvores e as florestas", sublinha.

A oficina, desenvolvida originalmente para o programa Descobrir, da Fundação Gulbenkian tem uma componente artística que auxilia os mais novos a perceber termos como sequestro do carbono ou upwelling(o transporte de águas frias e ricas em nutrientes essenciais para a superfície).

O lixo marinho constitui um dos focos do Programa Escolar de Educação Marinha da Ocean Alive. A organização participa no projecto Skeleton Seas Seedlings: transformar o lixo em arte, promovido pela Skeleton Seas e financiado pelas EEA Grants, promovendo a formação de professores e oficinas de educação marinha com os alunos.

O Programa de Educação Marinha da Ocean Alive tem o apoio institucional da IGCP-UNESCO e da Agência Nacional Ciência Viva.

Paixão pelo mar e pelos golfinhos
Raquel Gaspar, 46 anos, é de Colmeias, Leiria. Estudou no Colégio Conciliar Maria Imaculada e na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo.

Foi nesta instituição que o seu professor de Biologia, Costa Reis, haveria de marcá-la e ditar a sua paixão pelo mar. Estudou Biologia na Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa, estagiou num estudo sobre os golfinhos do Sado e o doutoramento foi sobre a dinâmica populacional destes mamíferos.

"Analisei 20 anos de fotografias de barbatana dorsais e tentei perceber qual era o movimento da população, quando aumentava ou diminuía, e tentei modelar isto no futuro. Aprendi que a única forma de proteger os golfinhos era proteger o habitat, as pradarias marinhas. Se ninguém souber que elas existem, ninguém se importará que elas desapareçam."

Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo