Opinião
Viva a morcela de arroz e o vinho palhete
Intercalados nos programas que vendem comprimidos e escadas elevatórias para idosos, os candidatos tiveram oportunidade de ser entrevistados por humoristas onde revelaram que ouviram concertos à porta de um festival, ou fizeram provas cegas de cerveja
As eleições legislativas foram no domingo e os resultados já terão sido, à hora que o JORNAL DE LEIRIA é entregue pelos ardinas, amplamente discutidos. Portanto, apesar do tema ser inevitável, não quero repetir uns comentários genéricos requentados que todos já ouviram dezenas de vezes na televisão, proferidos por comentadores que iniciam as suas intervenções por “dizer que…”.
Interessa-me, antes, falar um pouco sobre a campanha eleitoral, e tentar compreender o que pode esta campanha ensinar aos candidatos autárquicos.
Durante a campanha eleitoral, os líderes dos partidos foram entrevistados pelo Goucha e pela Júlia Pinheiro. Tiveram oportunidade de explicar quão desprovidos de características distintivas eram, mostrando que eram pessoas tão normais que nós poderíamos votar num qualquer candidato que o efeito era o mesmo.
Intercalados nos programas que vendem comprimidos e escadas elevatórias para idosos, os candidatos tiveram oportunidade de ser entrevistados por humoristas onde revelaram que ouviram concertos à porta de um festival, ou fizeram provas cegas de cerveja. Tudo temas fundamentais para uma decisão informada do eleitor.
Já no final da campanha, a saúde entrou em discussão, e ficámos a conhecer profundamente o esófago de um candidato. Ora, nas eleições autárquicas que já se avizinham, penso que será possível replicar à escala concelhia tais estratégias de campanha.
O JORNAL DE LEIRIA não conseguirá entrevistar os candidatos à edilidade, que escolherão um entertainer a quem explicarão como adoram os Silence 4 e uma vez até beberam uma imperial servida pelo Manel dos Filipes. Não havendo televisões locais, penso que o Teatro José Lúcio da Silva poderá receber os diferentes candidatos, com os munícipes na plateia.
Resta, apenas, escolher quem poderá ser a Júlia Pinheiro de Leiria, ou qual dos comediantes do concelho terá o privilégio de fazer perguntas jocosas aos candidatos.
Já os chiliques a que os candidatos estão obrigados exigem mais planeamento. Se escolherem padecer de azia, é necessário iniciar já uma dieta desregrada que inclua alimentos condimentados, ricos em gordura, acompanhados de bebidas alcoólicas.
Agora que estão excluídas as opções gastronómicas estrangeiras, a solução concelhótrica (ou seja, o equivalente municipal ao patriotismo) é uma dieta exclusivamente à base de morcela de arroz e vinho palhete produzido na Azoia. Não só irá, certamente, produzir achaques de grande craveira, como irá tornar a gastronomia leiriense grande outra vez.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990