Opinião

Ver-se grego

17 dez 2015 00:00

Como seria ótimo se o projeto europeu falhasse estrondosamente, pelo menos para alguns poderem dizer que, já há anos, avisavam que a moeda única seria um fracasso. Só que o Euro não foi uma experimenta de laboratório para ver se funcionava ou não.

Portugal ainda não é a Grécia. Tirando poucos exemplos, os heróis dos cantos épicos eram quase todos gregos. Será que o Varoufakis e o Tsipras um belo dia juntar-se-ão ao panteão? Há quem queira que a Grécia caia para demonstrar que, para pertencer ao projeto Europeu, é preciso seguir as regras, duras para os mais fraquinhos. E sabemos que há quem queira que os “nãos” helénicos e as novas eleições levem a que a Grécia fique numa posição melhor, contra a força vil, capitalista e financeira europeia e do Atlântico do Norte.

Como seria ótimo se o projeto europeu falhasse estrondosamente, pelo menos para alguns poderem dizer que, já há anos, avisavam que a moeda única seria um fracasso. Só que o Euro não foi uma experimenta de laboratório para ver se funcionava ou não. Foi um compromisso com todos nós, uma decisão em prol de um futuro conjunto e unido. Como todas as outras decisões que definem um rumo, não está isenta de problemas, de erros de construção ou de abusos. Quem quiser ver o exministro motoqueiro, então responsável pelo pilim grego, e o demissionário chefe de governo no palco heroico, encontrará sempre os seus argumentos. Heróis porque falharam contra uma força invencível. Mas lutaram, mesmo sabendo que iriam muito provavelmente sofrer uma derrota. Uma espécie de Dom Sebastião do Mar Egeu.

Além de tudo isto, a intervenção do Syriza trouxera uma lufada de ar fresco. Só que uma brisa não propulsiona um moinho. Ou aquele governo teve maus conselhos, ou simplesmente não os seguiu. Por outro lado, a brisa persiste, porque os governos anteriores apreenderam (espero para o bem deles) que a ida às urnas castiga a governação desastrosa. O que tem de acontecer para Portugal não ter de se ver grego? Não entrar em brincadeiras ideológicas (sejam elas marxistas ou neoliberais) e analisar friamente os dados económicos, as alternativas, se as há, e seguir adiante. Não resulta, porque já no futuro não resultou? Não parece haver alternativa e não temos vagar para experimentar se a receita também funciona com outros ingredientes.

Os „convidados“ já estão à porta, e se afinal tivermos de dizer: „Olhem, afinal a Pizza não vem com molho de tomate, pimentão e salame, como prometido. Substituímos com ketchup, cebola e presunto.“, provavelmente jantaremos sozinhos. Já sabem: se nos quisermos ver gregos conhecemos o exemplo syriziano. Arrancar uma vitória nas urnas, coligarse com o ideologicamente oposto ou ser tolerado por partidos que falam alto sem nunca terem coragem para governar efectivamente, o que requer as responsabilidades. E, finalmente, focar a grande questão das negociações, cada vez mais afastando-se dos assuntos concretos. Fica isto: O impacto de um ministro de mota restringe-se ao trânsito e às revistas sociais.