Opinião
Umas verdades
Parece que teimamos em não aprender. E a agigantar verdades que não o são
Foi assim que Hitler começou. A dizer umas verdades. Todos sabiam que os judeus detinham muito poder económico na altura. E todos temiam que esse poder se expandisse a outras áreas. E Hitler apareceu. A dizer umas verdades. E foram-se agigantando essas suas verdades. E sendo aceites.
Porque começou numa demonstrável, e a partir daí avançou para outras, que já não precisou demonstrar. Porque as mentes que o ouviam já estavam formatadas para aceitar tudo o que dissesse o seu líder. E como escreveu na sua luta, esse livro ignóbil, uma dessas suas verdades era que os judeus eram mal cheirosos. Escrito assim…
E essa verdade, que não o era, rapidamente passou a sê-lo. E mais tarde, até nos livros escolares a matemática era feita com judeus. Se tiveres 8 judeus e matares 4, com quantos judeus ficas? Escrito assim… E as crianças judias ainda iam à escola, claro... E foi assim que muitos passaram a achar-se melhores que os judeus. Mais merecedores. Mais pessoas. E foi o que foi.
Mas não foi só para os judeus. Foi depois para todos aqueles fora da norma loira, alta e poderosa, entretanto criada pela cabeça desse líder, que não era loiro nem alto, mas foi, infelizmente, muito poderoso. Louco acham alguns. Extraordinário acharão outros, que continuam a considerar o extermínio de classes a solução para os males do mundo, não sei.
Também não sei de ciências sociais. Sou das ciências naturais. Onde todos os seres vivos são importantes para o equilíbrio do mundo. Até aqueles que não gosto. Todos têm um lugar nos ecossistemas. E se lhes faltarem, o ecossistema sofre. Sofremos todos. Sem nada saber das ciências sociais, aprendi com um senhor, esse sim extraordinário, pela enorme sabedoria que detinha, que uma sociedade com menos desequilíbrios sociais é uma sociedade mais segura, menos violenta.
E portanto, reduzir desequilíbrios entre as pessoas é melhor para todos, menos perigoso, mais seguro. Para todos, leia-se. Como nos ecossistemas, todos são precisos. Mas não, algumas “verdades” que se andam a proferir nos últimos tempos voltaram a ser destas, que já todos vimos que dão asneira.
Mas parece que teimamos em não aprender. E a agigantar verdades que não o são. Resta saber qual será a norma desta vez, para percebermos de que lado cada um de nós vai ficar. Ao início até pode parecer que estamos do lado favorável, mas à medida que a ideologia se agiganta, pode mudar-nos de lado sem percebermos. E de repente, ligam-se as torneiras. Sem sabermos se é água que delas vai sair…
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990