Opinião

Todos os ventos a favor

30 abr 2016 00:00

Tudo corre bem a António Costa. Diz o brocardo latino que a sorte protege os audazes, e, goste-se ou não de António Costa, ninguém pode deixar de lhe reconhecer audácia política. São pelo menos dez as razões da «sorte» de Costa, senão vejamos: perdeu as eleições e ainda assim o empedernido Cavaco deu-lhe posse como primeiro ministro de Portugal; conta com o histórico e indispensável apoio do PCP e Bloco, o que, se tivesse vencido as eleições, provavelmente, não aconteceria; o novo Presidente da República tem uma notável (e louvável) postura de consenso político; o petróleo encontra-se a preços muito baixos, inclusive no chamado «mercado de futuros»; Mário Draghi mantém e aprofunda medidas que favorecem (também) os países mais endividados; a agência de rating DBRS mantém Portugal a um nível acima de lixo, o que permite ao Banco Central Europeu continuar com a estratégia de Quantitative Easing agora que já baixou as taxas de referência para zero ou próximo, estimulando a inflação e não deixando as economias da zona euro (a portuguesa incluída, naturalmente) cair em deflação;  face aos ataques terroristas de Paris que vão levar a França a um deficit superior a cinco pontos percentuais já no orçamento deste ano, para reforçar as polícias e os meios militares e também face  ao referendo no Reino Unido, a União Europeia  vê-se obrigada a rever as suas regras “intransponíveis”  tendo admitido, hoje mesmo, vir a flexibilizar algumas das suas diretrizes como é o caso do inexplicável limite de deficit de três por cento do PIB, nem que para isso tenham de ser alterados os tratados; a crise dos refugiados que contribuiu, pelo menos, para que a Alemanha percebesse que precisa dos outros países da Europa e por fim, mas não menos importante, bem pelo contrário, Francisco, o Papa da cristandade, é um líder extraordinariamente progressista. Mas atenção que, apesar de todos os ventos soprarem a favor e como avisava Séneca, «não há ventos favoráveis para quem não sabe para onde navega».  

A arte da governação é precisamente a lucidez na incerteza e a resiliência na adversidade. António Costa, para ser bemsucedido na sua audaciosa reposição de salários e pensões, falhará se não intervier profunda e concomitantemente no funcionamento do monstruoso mecanismo a que na sua anatomia do Estado, Thomas Hobbes, já no século XVII, chamou de Leviath, figura bíblica para designar a «máquina» do Estado. São precisas muitas reformas pois os serviços públicos, por um lado, estão à beira de implodir por falta de condições e meios e, ao mesmo tempo nesse mesmo Estado, infelizmente tão miserável, esbanjam-se rios de dinheiro todos os dias sem que os governantes façam nada para o evitar.

Das três uma: ou não sabem, ou não querem, ou sabem e querem. Brevemente escreverei sobre um conjunto de medidas simples que fariam com que o Estado poupasse dezenas de milhões de euros que todos os anos esbanja inutilmente. Se nada for feito e «como a manta não estica» vai ser o povo, como sempre, a pagar a fatura.

Candidato a deputado nas legislativas
Texto escrito de acordo com a nova ortografia

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