Opinião

Teorias rurais

15 nov 2019 10:52

Para meu azar o dono da adega tinha anexado um cão de guarda junto ao vinho, e o diligente animal decidiu virar-se a mim, fazendo-me verter meio copo que ainda não tinha alcançado a minha goela.

Tenho andado com algum fastio por causa de uma série de maçadas em que mais recentemente me vi envolvido.

Durante o passado fim-de-semana tive o infortúnio de me aproximar de um casco de água-pé, que por mero acaso se colocou no meu caminho.

Movido por uma força que raramente me consome, fui compelido a provar o material que dará origem à nova colheita.

Para meu azar o dono da adega tinha anexado um cão de guarda junto ao vinho, e o diligente animal decidiu virar-se a mim, fazendo-me verter meio copo que ainda não tinha alcançado a minha goela.

Vi-me forçado a abandonar rapidamente o local sem integralmente cumprir o meu programa para o São Martinho 2019.

Pior do que isso, o cão mordeu-me a mão direita e o tornozelo esquerdo, pelo que para além de mancar, preciso agora da chamada “palhinha” para poder ingerir líquidos e granizados.

A minha mão esquerda encontrava-se já reduzida ao mindinho e ao polegar após uma experiência triste numa serração para os lados de Porto de Mós.

Pior do que isso, o dono da adega, de seu nome Artur, tomou a liberdade de reter os três dedos que o seu terrífico cão entretanto levara para um local recôndito, junto com o que restava do meio copo de água pé.

O desagradável indivíduo decidiu punir-me atrozmente por um pecadinho de pouca monta, e que na realidade me qualifica como menos válido para uma séria de atividades, algumas delas produtivas.

Tinha preparada para estes dias uma presença na campanha da azeitona do Tramagal e um estágio mais longo em Vinhais, centrado nas técnicas de varejamento de ouriços e colheita de castanha.

Contudo, este infortúnio com o cão traduz-me numa insuficiência de quirodáctilos que na prática me impede de recolher frutos de pequeno calibre.

Sabendo que a campanha do melão (nomeadamente o Pele de Sapo e o Casca de Carvalho) nunca avança antes de meados de junho, esperame um longo período de repouso e meditação que, sem dúvida, se estenderá até ao verão de 2020.

*Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990