Opinião

Tempestade quase perfeita

22 jan 2016 00:00

Algumas destas economias estavam fortemente empenhadas em investimentos e exportação para mercados emergentes, que estão hoje em crescimento negativo devido à sua forte dependência do petróleo e matérias-primas.

O início de 2016 está a ser marcado por um forte teste aos mercados globais. As notícias são sombrias e interligam-se em algo semelhante a uma tempestade perfeita. Por um lado apontamos a queda do mercado acionista chinês, antecipando uma desaceleração do crescimento económico do país há muito esperada (ainda que, como vimos nestas crónicas, este mercado de ações seja relativamente pequeno face ao tamanho do país).

Por outro lado encontramos a queda do petróleo, que seria à partida uma boa notícia para as economias ocidentais mais dependentes desta “commoditie”, uma vez que veriam as suas balanças comerciais mais desafogadas (com o levantamento das sanções ao Irão, o barril atingiu os valores mais baixos em 12 anos), contudo, algumas destas economias estavam fortemente empenhadas em investimentos e exportação para mercados emergentes, que estão hoje em crescimento negativo devido à sua forte dependência do petróleo e matérias-primas (veja-se o caso nacional, com as suas ligações a Angola, Brasil, Venezuela, Colômbia entre outros).

Desta forma, a quebra dos países emergentes traz desafios aos mercados, mas também à “economia real” das empresas internacionalizadas. Finalmente, a estes dados junta-se a potencial sobrevalorização acionista de alguns mercados ocidentais (com os “ursos” a saírem das suas tocas – o símbolo da queda de mercado) e as pressões sobre a Banca nos países da periferia europeia (curiosamente, uma decisão correta do atual Governo e da Comissão Europeia, de chamar credores sénior para recapitalizar a instituição, tem causado ondas de choque na Europa).

Talvez a estas notícias devêssemos juntar uma péssima novidade que é a do superavit orçamental de 12,1 mil milhões de euros na Alemanha (que não inclui obviamente o superavit privado), o que significa, não que o país seja um paraíso de grandes gestores e governos (e o nosso um de ociosos), mas sim uma política monetária desajustada nesta união monetária imperfeita em que vivemos (como já vimos aqui, os países da periferia permitem à Alemanha usufruir quer de uma moeda mais baixa do que deveria ter, quer de crédito mais baixo, face ao prémio de risco e ainda de mercados sem barreiras).

É neste mar tempestuoso que o novo governo tem de fazer navegar o seu orçamento, as empresas decidirem investimentos e os particulares ponderarem as suas poupanças. Esperemos que as águas se acalmem, pois a turbulência inicial não augura nada de positivo.

*Membro do Conselho de Administração da D. Dinis Business School e docente do IPLeiria