Opinião

Sem título

12 mai 2016 00:00

Mesa de Cabeceira

O que me parece é que o movimento punk estrangula-se acontecendo. Morre no exacto momento em que nasce, devido às suas características desenraizadas e opositoras à criação do objecto artístico como afirmação, o movimento punk é uma espécie de fé doutrinal que ao materializar-se, deixa de o ser.

Por outro lado, qualquer movimento com intenções de o ser escapa à espontaneidade do dito criador, castrando-o e limitando-o no tempo, no espaço e no enredo económico onde está inserido. Sendo que a arte pressupõe intenção, não é difícil arredar qualquer tique experimental enrolado em quimeras aleatórias, apesar de serem talvez as mais sinceras pelo pouco contacto conspurcador do dedo humano, que tenta sempre controlar a acção e o resultado, mesmo quando tenta não o fazer.

Resta-nos reflectir sobre a inspiração como um fenómeno ritualista em que o dito criador não o é afinal, para ser apenas um meio onde uma mensagem considerada superior, dada a inclinação para associar o imaterial organizado a um ser paternal e sábio, é ditada como prenúncio ou evidência pouco passível de ser questionada.

Na senda de descobrir a morte nas imediações da vida, cai-se frequentemente na calha de fabricar certezas mais ou menos espumosas ainda que aparentemente sejam feitas de pilares inteiros que normalmente são sustentados pela indústria que os vai validando também espumosamente, mas como a espuma é muita, parece opaca.

O movimento que une o homem a ele mesmo (o vigente) resume-se a expor dedicações já antes expostas por acções práticas, racionais e desorganizadas à lupa de qualquer expressão dita artística, mesmo que involuntariamente, e não deixa de ser uma grande ode ao redundante, ao supérfluo além de evidentemente masturbatório, sempre devidamente organizado para apreço externo, fazendo-nos ver que a comunicação não olha a meios para atingir os seus fins e destitui-se semi voluntariamente de ser o que se supõe que será uma forma artística, para passar a ser um recado provinciano preso à estética seleccionada, quiçá, devido ao receptor que quererá atender.

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