Editorial

Reduzir, reutilizar, reciclar

13 ago 2020 10:22

Somos por natureza comodistas, poucos estarão dispostos a percorrer quilómetros para depositar vidro, plástico e papel nos ecopontos.

Montes de lixo espalhados pelo chão. Plástico, papel e outros materiais que deveriam seguir para reciclagem depositados junto aos chamados contentores para monos. Ecopontos para papel onde se encontra plástico, e vice versa.

Não é um cenário longínquo, de um qualquer país em vias de desenvolvimento.

Acontece em Portugal, e acontece no concelho de Leiria.

O aumento do consumo e a forma como os produtos são disponibilizados (muitos acondicionados em embalagens de plástico, que depois se acondicionam em papel, por exemplo) tem levado a um crescimento significativo da produção de resíduos.

O mais recente relatório sobre resíduos urbanos divulgado pela Agência Portuguesa do Ambiente revela isso mesmo, como se dá conta nesta edição.

A região de Leiria não é excepção.

Está a produzir mais lixo, e apenas uma parte dele é valorizada, acabando o grosso depositado em aterro.

Se é verdade que, segundo aquele relatório, no ano passado o sistema da Valorlis aumentou a reciclagem em 16%, face ao ano anterior, registando o valor mais elevado de sempre na recolha selectiva (11.779 toneladas), também é verdade que quase quatro em cada cinco quilos (71%) de resíduos urbanos foram parar ao aterro, sem qualquer valorização.

Para a reciclagem, seguiu apenas 12% da produção total de resíduos.

Portugal tem actualmente uma taxa efectiva de reciclagem de 23,7%, bem longe portanto da meta dos 55% definida pela União Europeia para 2025. Daqui a menos de cinco anos!

Como é que vamos lá chegar?

Há que apostar em força na reciclagem, e há que incentivar os consumidores a colocar os resíduos no sítio certo. Mas para isso é necessário também que os ecopontos estejam relativamente perto das suas casas.

Somos por natureza comodistas, poucos estarão dispostos a percorrer quilómetros para depositar vidro, plástico e papel nos ecopontos. Sobretudo quando se vive num apartamento pequeno onde não há espaço para guardar grande quantidade de material que justifique a viagem.

Acaba por ir parar ao caixote de lixo mais próximo. Mas é preciso igualmente agir a montante. Antes da fase de reciclar, é preciso reduzir e reutilizar.

A chamada política dos 3 R continua a fazer todo o sentido. E não é por acaso que a ordem é esta: reduzir, reutilizar, reciclar. No que toca à redução, caberá também à indústria fazer a sua parte.

Será que os cereais que compramos embalados em plástico, dentro de uma embalagem de papel, não podem de todo ser acondicionados apenas numa?

E será que precisamos mesmo de comprar as maçãs numa embalagem que tem esferovite e plástico?

É prático, certo, mas também tem impactos no ambiente. Outro argumento a não esquecer: fica certamente mais caro do que comprar a granel.

Quanto ao segundo R da trilogia, também há inúmeras possibilidades.

As embalagens que trazemos com comida do take-away podem ser usadas para voltar a guardar alimentos; os sacos de plástico em que trazemos as compras podem ser usados para o lixo; a água pode ser comprada em garrafões de cinco litros, as folhas de papel podem ser impressas dos dois lados.

Enfim, as possibilidades são imensas. Pelo ambiente, sobretudo, mas também pelas nossas finanças!