Opinião

Que seja Abril para sempre

18 abr 2024 16:03

É o mês de Abril, de águas mil, e também de mil discursos tão diferentes como só depois desse outro festejado mês podem agora acontecer

Estamos no mês de falar sobre como era dantes, sobre como foi que tudo aconteceu, sobre como deveria ter continuado, sobre o que ainda não se fez, sobre o que foi mal feito, e sobre o tanto que se caminhou e o tanto que conquistámos até aqui chegarmos; e também de falar, e de ouvir falar todos os que desde o início foram protagonistas mais ou menos destacados de tantos momentos e acontecimentos relevantes, sejam eles nacionais, regionais, ou de pequenos grupos.

É o mês de Abril, de águas mil, e também de mil discursos tão diferentes como só depois desse outro festejado mês podem agora acontecer. Seja qual for o conteúdo, e por muito que alguns conteúdos nos possam fazer pensar no que não se deseja que volte a acontecer, a simples possibilidade de existir tal diversidade garante-nos que há 50 anos algo transformador aconteceu e que, todos, de uma ponta à outra do espectro político, devemos ter disso uma plena e muito grata consciência, que nos obrigue a cuidar seriamente desse legado.

Podemos discutir sobre mil e uma coisas, divergir em relação a outras tantas, agitar bandeiras que uns adoram e outros detestam, podemos até, lamentavelmente, confundir liberdade com desrespeito, mas o que nunca se poderá fazer é menorizar, seja de que forma for, o que há 50 anos nos permitiu podermos fazer tudo isso, agora. Temos de lembrar que não foi sempre assim, saber que pode voltar a ser como já foi, e cuidar deste bem maior que nos tem servido de chão comum. Porque a Democracia pode não ser eterna, já que em si própria contém a possibilidade da sua destruição.

Ancorada na garantia de que todos os discursos são permitidos e de que cada cidadão pode e deve escolher em total liberdade, a democracia permite, portanto, a possibilidade das escolhas perigosas que a médio prazo poderão vir a resultar no que a esmagadora maioria não quer. Para que uma sociedade livre e democrática se informe e escolha são necessárias a divergência de ideias e a consequente discussão política, mas não podemos deixar que se transformem em guerra aberta onde os argumentos intelectualmente desonestos, a aldrabice, e a mentira possam servir como base para essa escolha. O respeito pelo direito a ideias contrárias e o desprezo pelo sensacionalismo deveria obrigar-nos a todos.

Depois de se terem passado mais de 40 anos desde que fomos deixando de nos ver, reuniram-se uma boa parte dos “filhos” dos 16 andares do nosso prédio, lugar de mil memórias de infância, adolescência e juventude. O recente reencontro, numa gloriosa tarde de abraços e beijos, fundou-se nessa história comum, nesse legado precioso, nessa memória fundadora e indestrutível. Falou-se das memórias e do percurso de vida de cada um; do que já fizemos, do que fazemos, e dos projectos que nos entusiasmam.

Queremos construir um futuro para este grupo porque sabemos que somos importantes uns para os outros, e que ganhamos em diversidade e amizade. E todos sabemos que, alinhados uns ao lado dos outros, cobriríamos absolutamente todo o espectro político. Esta é a minha história, mas poderia bem ser a de todos nós.