Opinião

Perspetivas no horizonte

10 out 2022 21:45

O atual cenário macroeconómico é pautado por um elevado grau de incerteza

“Terminar com a inflação é uma ciência, mas também em parte é uma arte." - Franco Modigliani

Na passada semana, o Conselho das Finanças Públicas divulgou as Perspetivas Económicas e Orçamentais para o período 2022-2026 sendo que neste hiato temporal a economia portuguesa irá sofrer o impacto direto do aumento do preço dos bens alimentares, energéticos e de outras matérias-primas e indireto do choque adverso na inflação, produção e atividade económica dos principais parceiros comerciais.

No que concerne ao Produto Interno Bruto (PIB) real da economia portuguesa, prevê-se o valor de 6,7% em 2022 (4,9% em 2021), seguido de um abrandamento expressivo para 1,2% em 2023.

Nos anos seguintes, e num cenário de políticas invariantes, o crescimento do PIB real deverá recuperar para 2% em 2024 e estabilizar em torno de 1,8% no médio prazo.

As perspetivas de crescimento para a economia portuguesa em 2022 devem-se ao forte desempenho no primeiro semestre das exportações de serviços, ao consumo privado e ao quadro de poupança acima da média histórica.

Em 2023, o abrandamento expressivo do PIB será consequência da persistência das pressões inflacionistas (prolongamento do conflito militar entre a Ucrânia e a Federação Russa e manutenção de restrições do lado da oferta), do abrandamento da procura externa e do agravamento das condições de financiamento da economia portuguesa nos próximos anos.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) aumentou para 9,3% em setembro, reflexo do preço dos bens alimentares e energéticos nos mercados internacionais, da depreciação do euro e da manutenção de restrições do lado da oferta.

O atual cenário macroeconómico é pautado por um elevado grau de incerteza, com riscos sobretudo de natureza externa numa tendência descendente para o crescimento da atividade económica e ascendente quanto à inflação.

Cumpre salientar que as pressões inflacionistas poderão ainda ser agravadas nos seguintes contextos i) interrupção completa do fornecimento de bens energéticos por parte da Rússia à Europa; ii) manutenção ou reforço das medidas Cocid-zero na China, o que prolongaria os constrangimentos nas cadeias de produção e distribuição globais; iii) a inflação (incluindo bens energéticos e alimentares) transmitir-se à inflação subjacente, iv) riscos associados à execução do PRR; v) possibilidade de apresentação de novas medidas de resposta à crise energética e aumento dos preços por parte do Governo; vi) agravamento das condições de financiamento da economia atenta a política monetária do Banco Central Europeu.

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990