Opinião

Pareidolias

12 jan 2024 16:13

As causas da pareidolia ainda não são totalmente compreendidas, mas acredita-se que sejam causadas por uma combinação de factores

Pareidolia é a tendência que a percepção humana tem para nos ditar uma interpretação significativa face a um estímulo, geralmente visual, levando-
-nos a «visualizar» um objecto, padrão ou significado, onde na verdade, ele não existe. Quem nunca se deslumbrou a observar as nuvens no céu e nelas perscrutar um floco de mel, uma borboleta ou uma flor.

De facto, os exemplos mais comuns, são os das imagens intuídas de animais, rostos, silhuetas humanas ou objectos em formações rochosas, no dorso das nuvens ou em manchas de paredes, ou até mesmo nas estruturas e elementos naturais em que encontramos formas significativas, que convertemos em esboços abstractos e aleatórios.

As causas da pareidolia ainda não são totalmente compreendidas, mas acredita-se que sejam causadas por uma combinação de factores, como a necessidade de encontrar significado e modelos constructivos para o mundo em redor, partindo da experiência, de expectativas, crenças e valores. É um fenómeno neuropsicológico que nos ensina muito sobre a natureza humana, e que pode ser usado para criar arte, ciência e até autoconhecimento.

Para Kang Lee (Professor da Universidade de Toronto), é sinal de que as ligações cerebrais estão a funcionar correctamente: “o cérebro está exclusivamente ligado ao reconhecimento de rostos, por isso, quando há apenas uma ligeira sugestão de características faciais, interpreta-as automaticamente”. Ocorre numa circunvolução cerebral chamada de ‘giro fusiforme’ responsável por ver formas, adaptá-las e moldá-las, função neuronal de organização visual adaptativa.

Pareidolias estão presentes em todas as culturas e períodos históricos. Na religião, é usada para intuir imagens divinas ou outras entidades espirituais. Os muçulmanos acreditam que podem ver a feição de Alá nas nuvens.

Na arte, é usada para criar imagens que são intrigantes e misteriosas. O artista holandês Maurits Escher criou, deliberadamente, muitas imagens ambíguas que podem ser interpretadas de várias formas. Recordo o título das saudosas crónicas de José Tolentino Mendonça “Que Coisa São As Nuvens?” na Revista E, que pela interrogação nos remetia para o espanto, para o questionamento universal de todos os Homens. 

As respostas encontradas vão sendo diferentes, mas uma das características mais impressionantes destas massas em deslocação, é o facto “de poderem ser observadas de todos os pontos de vista”, com o pulsar da alma e a sincronicidade do coração.