Opinião

Ó tempo

26 abr 2017 00:00

O fado é uma crise perpetuada, mal resolvida, uma constatação de falência.

À partida, esta constatação não se revela particularmente atraente e mesmo assim, é — no sentido de conseguir ser — um porto seguro.

Em bom português de Portugal costumamos dizer que vibramos saudade, fazemos-lhe um culto como de um luto permanente se tratasse e dizemos que se somos alguém, somos isto.

Que se calhar já nem somos, apenas parecemos. Ou se calhar acabamos por ser depois de tanto fingimento solidificado, por tique, hábito ou esquecimento. Ou, pior ainda, sabemos que não somos mas enfrentar a mudança é demasiado assustador e revolucionário.

As revoluções dão trabalho e depois também podem levar a perdas que não estamos preparados para carpir. Repetimo-nos com ais na boca como quem saliva na presença da tragédia: "eu não te disse?"

Prefere-se muito frequentemente um inferno familiar a outra coisa qualquer cujo resultado é desconhecido mesmo que auspiciosamente se intua fértil.

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*Músico