Opinião

O pior cego é...

24 ago 2017 00:00

A capital do distrito é um dos pólos naturais de atracção no meses de Verão e as unidades hoteleiras registam uma maior afluência.

O que faz alguém candidatar-se pelos partidos pequenos, sabendo que será uma corrida quase sem dinheiro e apoios, sem uma máquina partidária bem oleada, com pouca atenção nos media e, normalmente, poucas hipóteses de conseguir um resultado eleitoral que lhes permita ser eleitos? Foi o que fomos tentar saber nesta edição do JORNAL DE LEIRIA.

Daniela Sousa, do Pessoas-Animais-Natureza, João Pais do Amaral, do Partido Nacional Renovador, e Pascoal Duarte Oliveira, do Movimento Partido da Terra, são três candidatos que abdicam do seu tempo, suportam custos do seu próprio bolso e não recusam qualquer tarefa partidária.

Tanto distribuem panfletos, como se embrenham no discurso político. Porquê? Acima de tudo será por “amor à camisola”, sentido de missão e compromisso com os princípios defendidos pelos seus movimentos ou partidos.

Uma actuação que contrasta com a ideia de gente que “pretende um poleiro” ou “tacho”, criada à volta dos caciques locais que são eleitos pelos grandes partidos. “As pessoas estão cansadas da mesma política e da mesma forma de fazer política”, afirma Daniela Sousa.

Seria bom que os grandes partidos escutassem mensagens simples e verdadeiras como esta, promovendo o fim do divórcio que existe entre eleitos e eleitorado, permitindo que, mais bastas vezes, os interesses das populações sejam a prioridade no momento de tomar decisões.

Falando de interesses das populações, há muito que se sabe que um dos principais motores do desenvolvimento e da economia é o turismo e, aparentemente, a região está a ser procurada por cada vez maior número de visitantes, captando os excedentes do boom do turismo em Lisboa.

A capital do distrito é um dos pólos naturais de atracção no meses de Verão e as unidades hoteleiras registam uma maior afluência. Os equipamentos culturais também começam a animar-se, com alguns locais, como o Centro de Diálogo Intercultural, a ganhar cada vez mais visitantes.

O poder político faz o que pode dentro das suas atribuições, no entanto, a pecha continua a mesma: os comerciantes e o comércio local. O shopping mantém-se a transbordar, ainda mais com os emigrantes, enquanto as lojas da cidade, na sua maioria, continuam a resistir teimosamente a renovar-se.

Estão vazias, fecham portas e, quando isso não acontece, vendem mercadoria que ninguém quer. Estão de costas voltadas para uma visão de futuro. Os comerciantes parecem estar focados no ontem, quando “tudo corria bem”, para esquecer o presente onde tudo, ou quase, corre mal.

Nem a restauração escapa. Experimentem ir passar férias numa cidade onde os restaurantes e esplanadas fecham ao fim-de-semana e procurem por artigos locais, únicos da região, sem os encontrar. Voltariam lá? Claro que não.

Os turistas que passam por Leiria levam para casa pouco mais do que a fotografia da praxe tirada nos Paços Novos do Castelo, com vista sobre a cidade, e a fotografia da velha fortaleza da cidade, no espelho do edifício pós-moderno da Praça Eça de Queiroz (afinal, um espaço tão caro como aquele serve apenas para aquilo).

Já por diversas vezes o JORNAL DE LEIRIA ouviu opiniões de comerciantes, de turistas e de especialistas em turismo e marketing territorial, em busca de uma solução. Foram apontadas ideias e sugestões… pelo que estas críticas não são novas. O pior cego é aquele que não quer ver.

* Jornalista