Opinião

O Nascentes das Fontes

6 jul 2023 08:02

Espero que o sucesso do Nascentes mostre às autoridades competentes a incontornável e urgente necessidade de investimento na aldeia das Fontes e de acessos facilitados entre Leiria-Cortes-Fontes

Fontes, terra onde nasce o Liz, voltou este fim-de-semana a ser palco do Festival Nascentes, um festival de música, arte e amor.

Vivendo eu nas Fontes sou suspeito mas considero o Nascentes um dos maiores feitos culturais dos últimos anos no nosso país e, por tudo isto, há que dar os parabéns aos voluntários Fontenses, à Associação das Fontes e à Omnichord Records pela organização e a tantos outros incluindo a Movicortes, a Agricortes, o Estado Português e a Câmara Municipal de Leiria pelos apoios.

Não gosto de individualizar estas coisas mas neste caso é mesmo impossível não o fazer. O Gui Garrido é a alma e o espírito deste Festival e o seu sucesso deve-se à sua visão desconcertante e alcance cultural. O Gui é um programador cultural de grande nível mas é igualmente serralheiro, canalizador, marketeer, carpinteiro e motorista. Todavia, sem um incrível núcleo duro de Fontenses que o acompanhassem na sua visão, o Gui nada teria conseguido colocar em prática. Fontes teve a sorte de ter ganho um morador como o Gui e o Gui teve a sorte de ter ao seu lado pessoas dinâmicas e empenhadas como o Nharro, o Fontes, a Ilda, o Sete, o Fernando e a Céu, a Isilda, a Idalina, a Celeste, o Caricas, o Maneta, a Gabriela, o Álvaro e neles tantos outros habitantes das Fontes e de terras à volta que, durante todos aqueles dias, deram de si e de forma gratuita tendo como único pagamento o orgulho de verem a sua terra, onde vivem desde sempre, a liderar uma revolução cultural de dentro para fora, do interior para o litoral, da periferia para a metrópole, da aldeia para a cidade.

Neste festival, na minha pequena aldeia, com pouco mais que 100 habitantes, estiveram milhares de pessoas e encontrei amigos de Fátima, Pombal, Marinha Grande, Coimbra, Porto, Lisboa, e, claro, Leiria em peso.

Espero que o sucesso do Nascentes mostre às autoridades competentes a incontornável e urgente necessidade de investimento na aldeia das Fontes e de acessos facilitados entre Leiria-Cortes-Fontes. A aldeia precisa urgentemente de infraestrutura básica para receber os milhares de turistas que todos os fins-de-semana visitam a terra, nomeadamente um parque de estacionamento afastado do centro da aldeia e caminhos pedestres que liguem esse estacionamento à aldeia, aumentando assim o caminho que os cidadãos podem fazer a pé e a passear um carrinho de bebés, por exemplo. A estrada entre Leiria-Cortes-Fontes precisa urgentemente de passeios e uma ciclovia sob pena de se repetirem fatalidades ocorridas no passado. Sei que a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia estão a par destas necessidades e que existe vontade para realizar estes investimentos. No entanto, não podemos continuar mais tempo à espera.

O Nascentes é hoje um evento incontornável no panorama cultural da região e do País mas o meu maior orgulho não se prende com este facto mas sim com o renascer do espírito associativo numa sociedade em que as redes sociais nos arrastam para o individualismo, para a solidão e desconfiança dos outros. O futuro, para mim, nunca esteve, não está nem estará em dividirmo-nos em bairros, cidades, raças, orientações sexuais ou nacionalidades. O futuro está em abrirmos as nossas portas a todas as pessoas que querem as mesmas oportunidades que nós.