Opinião

O corpo como palco da dor mental

17 abr 2016 00:00

Era o corpo a servir de palco à dor mental.

Na adolescência havia os cortes, as auto-mutilações… era para me sentir aliviada… para escapar à dor… não sei explicar…” Era o corpo a servir de palco à dor mental. Hoje Maria (nome fictício) é uma mulher adulta, em psicoterapia há algum tempo. Para trás ficaram os cortes, os consumos excessivos de álcool e drogas, o risco de overdose. E nas nossas conversas já é possível escutar e falar deste grito, perceber a dor, a raiva, a zanga, a rejeição, o desamparo, que tantas vezes Maria precisou de calar, não sentir, não falar. Uma dor mental que não podia nomear, nem pensar. Os comportamentos autolesivos na adolescência são sempre sinal de preocupação. Dão nota de um mal--estar intenso que não deve ser negligenciado. Não se trata de uma chamada de atenção ou de uma tentativa de suicídio. No entanto, são um forte preditor de suicídio consumado e podem afectar qualquer pessoa. Por isso, devem ser levados sempre a sério, independentemente das razões que os possam motivar. Sabemos que correr alguns riscos faz parte do desenvolvimento normal na adolescência. Em contraponto, numa evolução patológica, habitam sentimentos de desesperança e dificuldade em lidar com as emoções, organizar um sentimento de pertença e encontrar internamente uma razão para a sua existência. E o que importa é intervir e não deixar passar a possibilidade do jovem se fixar e repetir comportamentos arriscados, para encontrar a razão para realmente existir, numa espécie de comportamento de auto-sabotagem que ameaçará todo o seu crescimento e maturação psíquica em curso. A prevalência de jovens em sofrimento, muitas vezes sozinhos, recorrendo a cortes ou a queimaduras corporais, a sobredosagens ou a outros comportamentos arriscados, para tentar aliviar algum do sofrimento que sentem é bastante elevada. ...

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